Com quatro discos lançados, a banda inglesa Patto, um dos
patrimônios do selo Vertigo em sua fase mais prestigiada, a da espiral,
moveu-se de um jazz-rock movido ao básico voz-baixo-guitarra-bateria, com
eventuais incursões pelo vibraphone, visto no primeiro LP Patto (1970) para um rock suingado e funkeado que atinge sua formatação
decisiva no terceiro disco, Roll'em,
Smoke'em, Put Another Line Out (1972). São dois discos essenciais para quem
gosta de rock com pitadas generosas de jazz, soul e blues.
Como sou fascinado por discos de transições, não tenho como
considerar o segundo deles, Hold Your
Fire (1971), outra coisa que não a obra-prima do grupo. Pensando bem, é
fácil chegar a essa conclusão, visto que os outros discos têm uma
irregularidade, pontas soltas e momentos desnecessários ou mesmo mais fracos,
que Hold Your Fire não tem. Ouvindo
esse disco comigo, nos anos 90, quando conhecemos a banda, meu irmão observou
que Ollie Halsall toca guitarra como se fosse um saxofone, e é verdade. É em Hold Your Fire, mais ainda que no incrivelmente
jazzístico primeiro disco, que a influência de Hot Rats (o LP do Zappa tido como inaugural do jazz rock junto com In a Silent Way, de Miles Davis e alguns
outros discos menos famosos) parece mais evidente. Halsall deixa sua guitarra
percorrer caminhos sinuosos com rapidez, puxando o restante da banda e
mostrando um incrivel entrosamento entre ele e o vocalista Mike Patto. É desse
disco a minha preferida da banda, e uma espécie de portfolio do que pode Halsall
quando inspirado: "Give it All Away".
Em Roll'em, já
pela gravadora Island, Halsall às vezes parece mais interessado no piano do que
na guitarra, como podemos ver já na excelente faixa de abertura "Flat
Footed Woman" ou na igualmente excelente "Turn Turtle", duas das
melhores faixas do disco. "Loud Green Song", por sua vez, é um rockão
sujo, com baixo jazzístico e guitarra aceleradíssima, como a de um Alvin Lee. É
um disco bem solto, como o primeiro, ainda que isso provoque bobagens como
'Mummy" e "Cap'n P' and the Attos". É também mais sujo e mais para
o blues e o soul do que para o jazz, se é que dá para separar assim facilmente
as influências ouvidas. A melhor do disco é "Singing the Blues on
Reds", que de certo modo explica melhor o que tentei dizer acima, ao mesmo
tempo em que mostra que a banda estava indo por outros caminhos.
O que era para ser o quarto disco, Monkey's Bum, gravado em 1973, foi engavetado e só veio à luz em
2002 por cortesia da gravadora Akarma, com produção mais tosca que o usual
porque a banda havia se desmanchado, deixando a Island com liberdade para então
cancelar o lançamento. Não é um mau disco, mas carece mesmo de acabamento. Até
para os padrões sujos do terceiro disco. Dá para ouvir a guitarra de Halsall a
mil, como sempre, alguns instrumentos de sopro que ficaram sem crédito
provavlemente por falta de pesquisa por parte da Akarma, e é possível perceber
que a banda tentava voltar ao nível de excelência de Hold Your Fire. Pena que ficaram no meio do caminho.
Patto foi para o Spooky Tooth, banda que sempre considerei
superestimada dentro desse contexto de rock obscuro setentista, e depois formou
o Boxer, com um bom primeiro disco e outros dois discos mais modestos. Halsall
tocou em alguns discos do genial Kevin Ayers, e pode ser visto num dueto sensacional
com Andy Summers em um show do Kevin Ayers de 1983 (Halsall com um roupão rosa).
Patto (1970) * * * *
Hold Your Fire (1971)
* * * * *
Roll'em, Smoke'em,
Put Another Line Out (1972) * * * 1/2
Monkey's
Bum (1973 – 2002) * * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário