quinta-feira, fevereiro 26, 2004

the stranglers - dreamtime (1986 ***).

a banda começou com um punk de ferocidade de boutique, com tecladinhos espertos e rebeldia comedida. à partir do terceiro disco, o excelente black and white, a banda evoluiu para um new wave nervoso e cheio de estilo, temperando seu som com muita originalidade. o incompreendido the gospel according to meninblack e a obra-prima la folie são, para mim, dois dos discos mais originais feitos no início dos anos 80. em dreamtime a preocupação é bem mais comercial. tem muitos "fillers", canções para preencher a duração do LP, mas tem muita coisa interessante. ouça "was it you?", por exemplo, com sua semelhança com madness (algumas outras da discografia anterior da banda lembram faixas mais pop do madness). e a loureediana "big in america" permanece uma canção de beleza instigante. mas é "always the sun" que fala mais alto e deixa a impressão de que dreamtime poderia ser bem melhor, sem vergonha de ser pop
ouço agora rare earth in concert (1971), duplo ao vivo fenomenal com a famosa versão de 23 minutos de "get ready" dos temptations. o disco é inteiro uma orgia sonora com muito soul, jazz, rock e latinidades. é o trabalho posterior à obra-prima ecology (o disco da capa verde). complemento essencial ao live at carnegie hall (quádruplo (!!!) ao vivo do Chicago).

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

canterbury é uma região da Inglaterra responsável pelo surgimento de uma corrente singular do progressivo. são bandas menos sinfônica, com um pé no psicodélico, outro no jazz (e free-jazz, mais especificamente). das bandas mais chegadas ao prog comercial (e que por isso não se entenda que de menor qualidade), destaco public foot the roman e caravan. a primeira vai de vocalizações à CSN ao rock mais elaborado de santana (dos primeiros discos) ou free. o prog está lá, mais como referência do que comodemarcação de estilo. caravan traz na voz suave de David Sinclair um apêlo pop irresistível. sua força vem da melodia, um pouco como o camel, só que menos preocupado em andamento e mudanças de compasso. o segundo disco, if i could do it all over again i'd do it all over you, é o mais sinfônico. com o terceiro, in the land of gray and pink (para muitos, o melhor), inicia-se o que poderia se chamar de "som caravan": belas melodias, com arranjos suaves e pouco virtuosismo, apesar da qualidade dos músicos. parece que tudo é arranjado para a voz de Sinclair e é incrível como se dá perfeitamente a combinação de instrumentação e voz. mérito que é sempre pouco considerado.
caravan. quanto mais escuto, mais gosto. mestres de canterbury.
post curto e picareta ´só pra ver se os links entram direitinho. hoje mesmo, ou no máximo amanhã, devo postar mais alguma coisa.

sábado, fevereiro 21, 2004

toda vez que escuto emotional rescue, disco pra lá de subestimado dos rolling stones, fico pensando o porquê de muita gente torcer o nariz. certo, aqui eles aprofundam a busca por uma sonoridade mais negra, mais funkeada. mas é algo que estava presente nos dois discos anteriores com ron wood, principalmente em black and blue. os fãs mais ortodoxos não tem do que reclamar. tem "summer romance", "let me go" e she's so cold", três excelentes exemplos de como seguir uma fórmula sem soar burocrático. "send it to me" é um dos maiores reggaes já escritos. "dance" é um esporro funk-samba, com cuícas desembestadasem meio ao groove. sensacional abertura de disco. pra encerrar com tanta qualidade, só escalando a sensível balada cantada por keith richards, "all about you" (provavelmente a melhor canção cantada pelo guitarrista)

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

brian eno - here comes the warm jets (1974): inacreditável. sempre achei este disco muito bom, mas reouvindo hoje, "cindy tells me" bateu forte. uma pérola da conjugação bela melodia+agressividade punk (proto-punk, me corrigem aqui - ora, dá na mesma). melhor ainda que for your pleasure (último do roxy music com ele), melhor que os dois discos seguintes (mesmo taking tiger mountain by strategy e another green world sendo geniais). parece ser o que david bowie queria com diamond dogs. o caos revisivo aliado à postura glam, a qual seria, por que não?, outro forte ingrediente para a explosão do punk rock três anos depois. sonics com kinks something else, standells com zombies begin here. "on some faraway beach": prenúncios do eno que viria depois, ambient music com pitadas de roxy music - não se cospe no prato em que se comeu. "blank frank": parceria com fripp (ertronics - é preciso voltar sempre a exposure, king crimson e league of gentlemen) é um tecno-punk hidrofóbico. bo didley reinventado com fúria. brian eno - here comes the warm jets: disco de cabeceira.
ian astbury tem uma bela voz. foi um dos grandes vocalistas dos anos 80. mas o the cult, quando deixou de fazer parte da trupe cure/siouxie/xmaldeutchland, o gothic rock que ainda faz a cabeça de muita gente, pra se tornar um clone pouco inspirado de led zeppelin em electric e sonic temple, perdeu boa parte de seu charme. dreamtime (1984) é um belo disco, canções pop rock que valorizam a voz de ian. love (1985) pode ser considerado a obra-prima da banda, ou quase. reparem que as guitarras, límpidas, e a batida dançante realçam a voz potente e melódica. de electric (1987) pra frente, o que era cristalino tornou-se esganiçado. o que era releitura tornou-se cópia. perdemos todos. faz muito tempo que não escuto cerimony e the cult (o disco branco), mas acho difícil que sejam pérolas escondidas pelo tempo.
the police:
outlando's d'amour (1978) **** - álbum de estréia inspirador. muito ska, muito punk, muita técnica...paradoxo genial. só por "can't loosing you" já vale cada centavo
regatta de blanc (1979) **** ainda mais técnico que o primeiro. o difícil segundo álbum. tem "message in a bottle", mas também a genial "contact", de stewart copeland
zennyatta mondatta (1980) ***** "bombs away", "when the world is running down...", "driven to tears". precisa dizer mais alguma coisa?
ghost in the machine (1981) ***** disco sombrio e inusitado. cheio de arestas, mas, talvez por isso mesmo, genial. tem "rehumanize yourself".
synchronicity (1983) ****1/2 frente às acusações de bloqueio criativo, os três lançam o canto de cisne. em muitos aspectos uma continuação do anterior. "synchronicity II" talvez seja a melhor canção da banda.
live (1995) **** duplo ao vivo. disco 1: turnê de regatta de blanc. disco 2: turnê de despedida da banda - 1983.
triste, mas os três separados ficaram longe de atingir a excelência desse trio inacreditável.
reouço apples in stereo - velocity of sound (2002). bubblegum de pouca inspiração, como o weezer, só que com influência maior de psicodelismo do que de punk. a voz irrita um pouco. não é um disco que dá vontade de reouvir. acho que bandas como elf power e, principalmente, grandaddy souberam mesclar suas influências psicodélicas com uma identidade maior. o último disco do grandaddy, sumday, é um primor, seja pelos arranjos petsoundescos, seja pela mão certa na composição das melodias. trocando em miúdos: vai bem na composição e na execução, diferente do elf power, que vai bem só na composição e bem ao contrário do weezer, que patina nas duas coisas. se bem que acredito que não exista música ruim, apenas música mal interpretada. a execução é tudo. velocity of sound (não ouvi os elogiados discos anteriores da banda), apesar de alguns poucos momentos ("yore days", por exemplo), é um disco que deixa muito a desejar.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

ouvindo agora dave carlsen - LP pale horse ***, curioso disco de 1973. não encontrei informações sobre o disco, mas nos agradecimentos constam figuras como noel redding, keith moon e spencer davis. o disco migra do hardão quadrado ao country rock nervoso passando pela balada blues. nada de novo. um disco interessante e parcialmente obscuro que não faz falta em discografia nenhuma, mas também não faz feio.
o som nosso de cada dia. banda que só durou dois discos, mas fez história nos 70s com um rock progressivo suingado, primeiro com influências de Emerson, Lake and Palmer, depois filtrando as lições da soul music. snegs (1974****1/2) misturava hard rock ("bicho do mato") com prog à base de teclados (massavilha) e baladas blues-rock ("en direccion de acquarius", "a outra face"), sempre com resultados pra lá de convincentes. um dos grandes discos de progressivo brasileiro. som nosso, também conhecido como sábado/domingo (1977****1/2) é outra história. com dificuldades de entrar no enfraquecido mercado prog, a banda recheou o primeiro lado de malemolência carioca provocando a ira de seus fãs roqueiros ortodoxos. fez o melhor lado de disco de sua carreira, mas parte de seu público não entendeu o hábil coquetel de influências. tem samba-rock ("levante a cabeça"), funkão malandro com direito a um "cocoooota...cocotiiinha" num grave cafajeste e hilário ("pra swingar"). outra grande faixa é "estação da luz", um prog funkeado que lembra o Gentle Giant de missing piece. mas a melhor é "vida de artista" de tony osanah (mesmo compositor de "estação da luz"). trata-se de um funkão raivoso e sublime, com uma linha de baixo de arrepiar e letras questionadoras e de alcance certo, apesar do simplismo. "se a nossa arte, então não vale nada/a nossa vida então não vale nada". grande refrão para fechar o lado). infelizmente, o lado B, com um prog meio quadradinho não é tão bom. não que seja ruim, está longe disso, mas vê-se que não era a onda deles no momento. "bem no fim" e "rara confluência" são as melhores. detalhe: para dar o clima certo aos diferentes lados (algo em voga na época - vide Low de david bowie) gravaram o lado A (sábado) no rio de janeiro e o lado B (domingo) em são paulo.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

em meu antigo site (Tem que Acontecer), pretendia fazer um retrospecto na carreira de Lou Reed, desde os tempos do velvet underground. não fiz. agora escutando Loaded (fully edition) fico pensando que Lou só iria fazer um disco não genial em 1971, com seu primeiro disco solo. depois, faria novas obras-primas com transformer, berlin, sally can't dance, coney island baby, blue mask, new york, magic and loss e songs for drella. se todos os outros discos dele tivessem a qualidade de um mistrial (seu disco mais insípido), mesmo assim Lou mereceria lugar de destaque entre os grandes artistas populares. vou me arriscar a um top 10 de Lou Reed, contando os discos com o VU: 1. velvet underground (1969) 2. velvet underground & nico (1967) 3. songs for drella (1991) 4. loaded (1970) 5. berlin (1973) 6. white light white heat (1968) 7. transformer (1972) 8. sally can't dance (1974) 9. new york (1989) 10. magic and loss (1992)

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

the sisters of mercy, um dos papas do gothic rock, lançou apenas três discos, e teve vida curta, graças à falta de criatividade que acometeu Andrew Eldritch, o líder, no final dos anos 80. do primeiro disco saiu Wayne Hussey, líder do the mission, banda que tem seus acertos, mas até hoje não fez um grande disco. Eldricht ainda tentou uma roupagem gothic metal com o terceiro disco, mas sentiu que sua carreira musical pouco tinha a acresentar. first and last and always (85****1/2) -sombrio e dançante ao mesmo tempo, seria grande influência para bandas como Xymox, pra ficar na melhor banda do estilo. destaque para "marion", "anphetamine logic", "black planet", "walk away" - floodland (87****) -mais sombrio que o primeiro, com faixas grandes e bem marcadas pelo baixo da vamp Patricia Morrison. melhores: "lucretia my reflection", "driven like the snow", "never land (a fragment)" - vision thing (90***) - disco mais pesado, mas que não chega a decolar. "vision thing" e "more" são as melhores - some girls wonder by mistake (92****) -coletânea de singles antigos, mostra que a banda tinha muito mais pique nos seus primeiros anos de vida. destaques: "alice", "phantom", "1969", "gimme shelter", "anaconda".
voltando à seara do pop perfeito: duran duran, banda que já foi subestimada e que agora parece estar sendo respeitada até por roqueiros bitolados nos anos 70. começaram com uma obra-prima, o disco de capa branca, com os integrantes vestidos de acordo com a moda que ajudaram a propagar, a new-romantic. é um disco de melodias tão sublimes que dá vontade de não tirar mais do aparelho, principalmente se for em LP, que tem som muito melhor que o CD, mesmo em sua edição nacional. rio segue na mesma linha, e tem o mega-hit "save a prayer" e seven and ragged tiger dá uma suavizada para um pop mais límpido, mas ainda eficaz. arena não é ruim quanto diziam na época. se não está a altura dos três primeiros, também não faz feio. e tem duas inéditas (uma bem legal, "is there something I should know", outra mais ou menos, "wild boys"). notorious foi acusado de concessivo ao mercado, na época, mas uma reaudição comprovaria que trata-se de um disco inspiradíssimo, mais funkeado - cortesia de nile rodgers - e se não tivesse mais nada, valeria só por skin trade. daí pra frente só decadência, com raros arroubos de criatrividade (wedding album +, meddazland -). duran duran (81*****) - rio (82*****) - seven and ragged tiger (83****) - arena (84***) - power station /power station (projeto de Andy e John Taylor) (85**1/2) - arcadia / so red the rose(projeto de nick rhodes, simon le bon e roger taylor) (85****1/2) - notorious (86****1/2) - big thing (88**) - liberty (90*) - "wedding album" (93***1/2) - thank you (95**) - meddazland (97***) - pop trash (2000**)

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

falando um pouco de Heavy Metal, escutei ontem, em vinil, um disco que achava campeão do thrash metal, o primeiro do flotsam and jetsam, doomsday for the deceiver (1986). sei lá, não quero dar cotação, acho que ouvi num mau momento. mas ficou uma impressão de insipidez que incomodou. claro que a prensagem do vinil nacional que tenho em mãos não ajuda, com falta de graves e som baixo. lembro que na penúltima vez que ouvi (do cd), no começo do ano passado, fiquei pensando que era um disco que conhecia desde aquela época que permanecia intacto como um dos melhores do gênero. pede reaudição (em cd). ou vinil importado, se aparecer. puff puff
esqueci de dizer que, para aqueles que gostam de pet shop boys, o disco de estréia do beloved (hapiness) é mais do que recomendado. e pode ser encontrado facilmente em LP.
post curto em homenagem a um amigo, um dos leitores silenciosos deste blog (foi bom descobrir que existem) que me disse certa vez que eu criei um estilo: pop perfeito. pois bem, escuto agora um dos ilustres representantes do estilo: o disco de estréia do fenomenal beloved. lembro que a banda foi formada por um crítico de uma publicação musical inglesa (Melody Maker, se não me engano). se pérolas deliciosas como "hello", "time after time", "don't you worry", "scarlet beautiful" e "the sun rising" não fizerem a tua cabeça é melhor fazer alguma terapia, pois seu nível de estresse está alto demais para admirar a beleza, a bela escarlate (foi infame, eu sei). o segundo e o terceiro discos não chegam aos pés, mas este, chamado hapiness, é de fazer com que deixamos a vergonha de lado e comecemos a dançar feito bobos onde quer que seja.