domingo, fevereiro 28, 2010

Não dou nem bom dia para quem não gosta de U2

A frase do título é uma homenagem ao Régis Tadeu, que a cunhou, ou a propagou no orkut.

Como passei a limpo a discografia em estúdio do U2, não resisti de anotar algumas impressões e dar as tão famigeradas cotações para todos esses discos. Boa leitura:

Boy (1980) * * * * *

Meu preferido de outrora é meu preferido hoje, depois de um longo período de soberania do disco de 1984, The Unforgetable Fire. The Edge já mostra a que veio, forjando uma sonoridade única, que algumas bandas tentaram imitar (The Alarm, Simple Minds circa 1984, etc.), sem alcançar 10% da mesma força. "Scarlet and Tall Trees" é provavelmente a melhor balada do grupo.

Destaques: I Will Follow, An Cat Dubh, Scarlet and Tall Trees.


October (1981) * * * 1/2

Um lado A excepcional, um lado B preocupante. A banda voltaria a mostrar sinais de decadência em Rattle and Hum, só que alí não foi por timidez e falta de inspiração, mas por excesso de pretensão.

Destaques: Gloria, Tomorrow, I Fall Down.


War (1983) * * * * 1/2

Praticamente um álbum de power pop, War foi o grande responsável pelo estouro da banda no mundo inteiro. Marca, também, o término da forte influência de suas raízes punks, e a intensificação das texturas que seriam mais exploradas nos dois álbuns seguintes.

Destaques: A New Years Day, Seconds, Two Hearts Beat as One.


The Unforgettable Fire (1984) * * * *

Já foi meu preferido por muito tempo, mas reescutado agora revela-se irregular, com a pegada incisiva da banda sendo administrada demais por Brian Eno. Se é o disco que tem a clássica "Pride", uma das mais belas canções já feitas, também tem a medíocre "Elvis Presley and America".

Destaques: Pride, The Unforgettable Fire, Bad.


The Joshua Tree (1987) * * * *

Da abertura grandiosa e impressionante de "Where the Streets Have no Name", do clima progressivo de "With or Without You" e do pop rasgado e melodioso de "In God's Country" nunca iremos nos esquecer. Essas canções marcaram não só uma época, como todo um estilo apoiado na guitarra mágica de The Edge, com suas texturas criadas em pedaleiras e demais aparelhos. O restante do disco não chega perto dessas três beldades em inspiração (apesar de "Trip Through Your Wires" chegar bem perto), mas impressiona pela sonoridade coesa.

Destaques: Where the Streets Have no Name, With or Without You, In God's Country.


Rattle and Hum (1988) * * 1/2

Na época, Rattle and Hum completou o que The Joshua Tree tinha começado a fazer comigo: me afastar de U2. Desde então, vibrei com alguns momentos de Achtung Baby e Zooropa, mas só fui cooptado pela banda novamente depois de ter montado a loja com meu irmão, a Jardim Elétrico, mais precisamente quando resolvi ouvir o disco All That You Can't Leave Behind, num belo dia em que esse disco sobrou no balcão. Reovindo, vinte e poucos anos depois, continua sendo um projeto grandiloquente demais (filme, ao vivo, inéditas de estúdio...), mesmo para os padrões da banda.

Destaques: Angel of Harlem, Pride (live), God Part 2.


Achtung Baby (1991) * * * * 1/2

Após o cansaço de Rattle and Hum, a reinvenção completa com Achtung Baby. Ainda que uma coisa curiosa se observe. A reaudição dos álbuns em ordem cronológica hoje, quase vinte anos depois da mudança operada neste disco, revela mais semelhanças do que diferenças. Ainda assim, é um grande disco, que comprovou a enorme capacidade da banda em remodelar seu estilo. Pelo grande número de hits, no que se compara a The Joshua Tree, pode até ser considerado uma coletânea involuntária.

Destaques: Even Better Than the Real Thing, Until the End of the World, Misterious Ways.


Zooropa (1993) * * *

O caminho mais dançante ensaiado em Achtung Baby encontra o ápice neste e no próximo discos. Ainda que tenha algumas melodias marcantes, o álbum falhou em manter o U2 dentro de um alto panteão crítico. Basta ver os destaques. Todas as faixas destacadas em Zooropa perdem para todas as faixas destacadas em Boy, War ou Achtung Baby, por exemplo.

Destaques: Zooropa, Stay (Faraway so Close), Some Days are Better Than Others.


Pop (1997) * * 1/2

Ainda mais dançante e desigual que Zooropa. Se por um lado tem uma canção belíssima como "If You Wear That Velvet Dress", e baladas legais como "Staring at the Sun", tem também a ridícula "Miami".


All That You Can't Leave Behind (2000) * * *

Mais baladeiro e orientado para FMs do que qualquer outro disco da banda (mais até do que Pop). Foi o que achei na época do lançamento. Mas gostei do que ouvi. Foi minha reconciliação com a banda, ainda que hoje já não ache tão melhor assim que Pop. Tem açucar demais.

Destaques: Elevation, Grace, When I Look at the World.


How to Dismantle an Atomic Bomb (2004) * * *

"Vertigo" é o rockão moderno que eu esperava ouvir da banda desde 1992. Estaria o U2 de volta da hibernação em terreno seguro? "Voltar o relógio e agir como se os anos 1990 nunca tivessem existido", diz o editor do All Music Guide, Stephen Thomas Erlewine. Não sei se é bem assim. As baladas, por exemplo, reservam alguma coisa que estava bem presente em Zooropa e Pop, e por isso não dá para dissociar este disco dos outros dois completamente. Além disso, eles ainda estão longe de uma regularidade em todas as faixas.

Destaques: Vertigo, Love and Peace or Else, City of Blinding Lights.


No Line on the Horizon (2009) * * * *

Novamente um começo marcante com a faixa título, e a nova esperança de um discaço, à altura de Achtung Baby. Desta vez eles demonstram um fôlego muito maior, já que até a quarta faixa seguram um nível dos mais altos na carreira da banda. No balanço geral, um disco que não está à altura de AB, mas que chega bem perto disso, com canções inspiradas como "Stand Up Comedy", "Moment of Surrender", "Cedars of Lebanon" e "Get On Your Boots", além dos destaques abaixo. Longa vida ao U2.

Destaques: No Line on the Horizon, Magnificent, Breathe.

sábado, fevereiro 20, 2010

Slayer é um santo remédio


Há muito tempo descobri que é muito mais fácil trabalhar com música. Ultimamente, descobri que é melhor ainda com Slayer. Por isso reescutei todos os discos, em ordem cronológica. Inevitável, então, comentar por aqui, né? Escrevo sob influência de Berrah de Alencar, Wilson Dias Lúcio, Eduardo Souza Bonadia, Antonio D. Pirani e outros, que eram os caras que escreviam na Rock Brigade no auge da minha fúria metal. Aproveito para pedir desculpas pelo abandono deste blog. Espero nunca mais deixá-lo tanto tempo à míngua.

Show no Mercy (1983) * * * * 1/2
Mais power metal do que verdadeiramente thrash metal. Tem até espaço para melodia assobiável ("Tormentor"). Mas a música de abertura é "Evil Has No Boundaries", que é uma paulada como eu nunca tinha ouvido. Lembro da reação que tive ao ouvir este disco pela primeira vez, no fim de 1983. Meses depois, eu trocaria meus Judas, Scorpions e Saxons por Anthrax, Metallica, Destruction. Foi o princípio da radicalidade que durou até 1985.
Destaques: Evil Has No Boundaries, Die By The Sword, Fight Till Death.

Haunting the Chappel EP (1984) * * * * 1/2
Quatro faixas ferozes como nenhuma banda conseguia ser, com destaque para "Chemical Warfare". Neste EP a banda completaria sua revolução no metal.

Hell Awaits (1984) * * * * *
O nome da faixa que encerra o disco já diz tudo: "Hardening of the Arteries". É preciso ser forte para "encarar o demônio de frente" e "dançar na propriedade do sobrenatural" (obrigado, velha e boa Rock Brigade). O que Araya e comparsas estavam fazendo era algo inacreditável, comparável a cuspir na água benta e urinar no altar da música pop. Hell Awaits inaugura a cadência clássica do Slayer, que seria imitada por zilhões de bandas mundo afora.
Destaques: Hell Awaits, Praise of Death, Kill Again.

Live Undead EP (1985) * * * *
Os caras simplesmente quebrando tudo ao vivo. Não dá para resistir. É bangear até morrer.

Reign in Blood (1986) * * * * *
Se existe um disco avassalador na história do metal, certamente e este. Outros mais pesados e velozes vieram, mas nenhum com tanta nitidez em cada instrumento. É certamente o manto sagrado do Thrash, do Death, do Speed, do Black e de tudo quanto é metal.
Destaques: Angel of Death, Epidemic, Raining Blood.

South of Heaven (1988) * * * *
Depois de Reign in Blood, é covardia. Mas deixando a poeira assentar e voltando à cadência de Hell Awaits, SOH é um grande disco, com uma cover de Judas Priest, a foderosa "Dissident Agressor". Em CD, costumava circular com uma versão dispensável para In-a-Gadda-da-Vida, do Iron Butterfly.
Destaques: South of Heaven, Live Undead, Ghosts of War.

Seasons in the Abyss (1990) * * * * 1/2
Mesclando o peso de South of Heaven com um pouco (é impossível ter tudo) da fúria de Reign in Blood, foi considerado um retorno à forma na época, depois de um disco menos agressivo.
Destaques: War Ensemble, Spirit in Black, Skeletons of Society.

Decade of Agression (1993) * * * *
Retrospectiva da carreira, ao vivo. Matador, obviamente.

Divine Intervention (1994) * * *
Em meados da década de 90, só o Slayer ainda chamava o capeta para dançar. Infelizmente, sem tanta inspiração. Como sempre, a faixa de abertura já nos lança no âmago da guerra, ansiando por sangue. Dave Lombardo disse adeus. Em seu lugar, estreia o insano Paul Bostaph.
Destaques: Killing Fields, Sex-Murder-Art, Mind Control.

Undisputed Attitude (1996) * * 1/2
Várias versões legais de músicas de bandas muito legais (Minor Threat, Stooges...). No entanto, cansa um pouco, por parecer tudo igual.

Diabolus in Musica (1998) * * * *
A fúria dos deuses do metal assassino está de volta. Um disco que remete a Seasons in the Abyss e ao mesmo tempo aponta para algo inédito na carreira da banda: a procura de uma atualização da sonoridade (algo que não se confirmaria, contudo).
Destaques: Bitter Peace, Love to Hate, Perversions of Pain.

God Hates us All (2001) * * * *
Muito provavelmente é o disco mais feroz desde Reign in Blood, o que extasia e convida à batalha, mais uma vez. Último disco com Bostaph na batera.
Destaques: Disciple, War Zone, Threshold.

Christ Illusion (2006) * * * *
A volta de Lombardo não trouxe muita mudança. O inferno continua expurgando todo o mal do mundo, e as pessoas continuam acreditando na religião como porta de salvação. À espreita, esses quatro californianos raivosos continuam arrebentando tudo.

World Painted Blood (2009) * * * * 1/2
Sem palavras. É o Slayer novamente galgando a trilha para o panteão de melhor banda furiosa que existe, pau a pau com o Killing Joke. Lúcifer foi aos céus armado com seus tridentes e jorrando sangue pela crostra terrestre (nofa!!!).