terça-feira, novembro 07, 2017

Todd Rundgren em 1975 e 1976



Foi um período difícil para Todd Rundgren o miolo dos anos 1970. Ele que já havia mostrado um talento quase inigualável como compositor desde os primeiros discos com o Nazz, e explodiu definitivamente com três discos impecáveis feitos em sequência – Something/Anything (1972), A Wizard: A True Star (1973) e Todd (1974) -, respectivamente o terceiro, quarto e quinto discos solos de sua carreira, parece ter entrado em parafuso após este último. Após a gradual complexificação de seu pop/rock orientado para canções, operação que confundiu os críticos que gostariam de mais Something/Anything. Para onde ir agora? – é o que devia se perguntar Todd à época da ressaca de Todd.

A resposta inicial foi montar uma nova banda, a exemplo do que fez Paul McCartney dois anos depois de sair dos Beatles. Utopia seria essa banda, e teria a proposta de responder ao som do momento de maneira criativa, ou seja, expandindo uma vertente específica daqueles tempos, no caso, o rock progressivo. Por mais que o primeiro disco desse projeto seja muito inferior ao trabalho solo de Rundgren até então, havia ali qualquer coisa do gênio a que estávamos acostumados.

Isto é algo praticamente ausente de Initiation (1975), com o qual deu prosseguimento à carreira solo. Meio prog, meio místico, meio disco, esse disco insólito tem mais de uma hora de duração, em um único disco de vinil (imagine a fragilidade da mídia física, com os sulcos todos esprimidos para que caibam todas as músicas), uma porção de boa música junto de algumas bobagens e nada, absolutamente nada que fizesse jus à grandeza desse músico.

Pior é o disco seguinte, Faithful, lançado após um disco ao vivo do Utopia, em 1976. Com o primeiro lado só de covers, Todd Rundgren desceu onde nunca havia descido em sua carreira. Primeiro pelas escolhas, óbvias. Depois pela falta de imaginação nas versões, que em nada acrescentavam às suas originais. O lado B, só de composições próprias, é bem melhor (embora longe da excelência do período 72-74), mas o estrago estava feito.

Sua carreira, felizmente, entraria nos trilhos em 1978, quando, após dois bons discos do Utopia – RA e Oops Wrong Planet, ambos de 1977 – ele lança mais um ótimo disco solo de pop-rock (quase tão bom quanto o mais aventuroso Todd). Hermit of Mink Hollow é o nome do disco, que contém faixas mais curtas e simples, e vem com o hit "Can We Still Be Friends".
 
P.S. Sempre esqueço de colocar The Ballad of Todd Rundgren (1971), seu segundo disco solo, no lugar que lhe é devido: o de obra-prima absoluta. Ou seja, são quatro discos impecáveis em sequência ali na primeira metade dos anos 70.