sábado, julho 13, 2013

Satan



Todos que frequentavam este blog antes do longo recesso sabem que curto um velho e bom heavy metal. Tenho a teoria de que uma pessoa que não conheceu a fundo o estilo na adolescência, não vibrou com acordes de guitarra de Tony Iommi ou James Hetfield, não balançou a cabeça acompanhando desajeitadamente a batida de um bom power metal alemão, não se impressionou com as atomosferas lúgubres criadas pelo Venom ou o Celtic Frost, não tem como gostar de heavy metal depois de adulto. É preciso se empolgar quando adolescente para pegar a doença. Uma vez tomado por ela, nunca será curado. E nem desejará a cura. Pois aquele que abandonou as fileiras do bom metal ou é um traidor, ou nunca havia gostado de fato.

Eis que escuto, somente hoje, o novo álbum do Satan, uma das minhas bandas preferidas da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), movimento surgido na primeira metade dos anos 1980 que influenciou muita gente a partir de seus mais nobres representantes: Saxon e Iron Maiden. Pois ao ouvir Life Sentence, álbum que retoma a formação do clássico Court in the Act (1983), volto à adolescência, mas só à parte boa desse período. Esqueço momentaneamente os problemas e vibro com a energia que vem dos autofalantes, e me encanto com as melodias cantadas por Brian Ross e assobiadas pelas guitarras mágicas de Russ Tippins e Steve Ramsey. O baixo de Graeme English está ali para segurar a grandiosidade da banda, assim como a bateria segura de Sean Taylor. Nem acredito que esses caras se reuniram novamente para derreter meus ouvidos de puro prazer metálico.

Ramsey e English foram do Skyclad, a banda que mais me agradou entre as que orbitaram mais de perto o Satan - as outras são Blind Fury, Pariah e Blitzkrieg. Esta última tinha em sua formação Brian Ross, que para mim é um dos maiores cantores de metal de todos os tempos. Considero-o superior ao David Coverdale, para falar de alguém com a voz muito parecida. Ross não quer imitar Coverdale, com este imitava o Robert Plant. Ross é uma dessas vozes únicas, e as melodias do Satan combinam perfeitamente com sua maneira de cantar (até os gritinhos clichês do metal ficam bem com ele).

Destaques de Life Sentence? Por enquanto, todo o álbum merece destaque, da primeira faixa, "Time to Die", à última, "Another Universe". Bom, se for possível apontar um ponto mais fraco, seria sem dúvida a faixa-título, que é boa, mas não alcança a majestosidade do restante do álbum (lembrando que eu só o escutei uma vez). 

É sem dúvida um dos melhores discos de metal dos últimos anos. Até me arriscaria a dizer que é o melhor dos últimos 20 anos. E faz o que muitas vezes provoca o fracasso das bandas que retornam: é como se estivéssemos em 1985 e este fosse o segundo disco da banda após o magnífico Court in the Act (ignorando os discos que eles fizeram com Michael Jackson, não o de Bily Jean, no lugar de Ross). Esse disco faz de 2013 um marco do heavy metal tradicional. 

Agora dá licença que vou ali empilhar carteiras no fundo da sala de aula.

segunda-feira, julho 01, 2013

Genesis (1976-1981)



Voltando a este blog musical, meu primeiro blog, exclusivo para textos sobre música, qualquer tipo de música. 

Nada mais justo que esta volta seja feita por causa da reaudição de alguns discos de uma banda que eu sempre amei, Genesis.

Reouvi a fase 1976-1981, ou seja, os primeiros discos sem Peter Gabriel, até a virada para o pop. O juízo sobre esses discos não mudou. Continuo achando Wind and Wuthering e And Then There Were Three superiores a todos os outros (creio que seja possível incluir aí os que a banda fez depois de Abacab). Ainda acho Duke o mais fraco de todo o período. As cotações continuam assim:

A Trick of the Tail (1976) * * * *
Wind and Wuthering (1976) * * * * 1/5
And Then There Were Three (1978) * * * * 1/5
Duke (1980) * * *
Abacab (1981) * * * *

Stephen Thomas Erlewine, do AMG, diz que Wind and Wuthering é o disco que marca um começo de mudança para a fase pop, e que And Then There Were Three é mais forte ainda na direção do pop oitentista que a banda fará daí em diante. Certo. Mas percebo muito mais diferença em Duke, com sua capa infantil refletindo uma busca por uma sonoridade mais simples e direta, do que no disco anterior, cuja melancolia se afastava do pop que os tornaria mundialmente famosos. Eles nunca haviam feito algo tão pop quanto "Misunderstanding" ou "Turn It on Again", presentes em Duke. Os resquícios do progressivo sobrevivem em "Duke's Travel" e "Duke's End".

Erlewine também se impressiona com a diferença de "Your Own Special Way", presente em Wind and Wuthering, e o som padrão Genesis até então. A letra romântica pode até sinalizar novos tempos, mas a sonoridade está mais para Crosby, Stills and Nash do que para o que a banda faria em seguida, e existem baladas mais melosas em A Trick of the Tail ("Mad Mad Moon" e "Ripples").

A virada para o pop iniciada com tudo em Duke vai encontrar melhor tradução em Abacab, possivelmente o melhor disco do Genesis nos anos 80. "No Reply at All" é um clássico do funk branco, com a ajuda dos "corneteiros" do Earth Wind and Fire. "Keep it Dark". "Abacab" e "Another Record" mostram uma inventividade ainda intacta, só que não mais a serviço do prog. Abacab é certamente um disco injustiçado.

TOP 10 da fase, hoje:

1) One For the Vine (WaW)
2) Burning Rope (ATTWT)
3) Blood on the Rooftops (WaW)
4) Undertow (ATTWT)
5) Scenes From a Night's Dream (ATTWT)
6) Your Own Special Way (WaW)
7) All in a Mouse's Night (WaW)
8) Misunderstanding (D)
9) No Reply at All (A)
10) A Trick of the Tail (ATotT)