sábado, novembro 29, 2003

ouvi pela primeira vez os discos novos de Lô Borges (umdiaemeio ***1/2) e Otto (sem gravidade ***), cada qual com suas limitações. Otto faz seu melhor disco, mas irregular como toda sua obra. quando fica pop, fica muito bom, quando arrisca no psicodelismo, melhor ainda, quando resolve misturar influências, a coisa desanda um pouco. as melhores são "Pra Quem Tá Quente", "Pra ser só Minha Mulher" (esta de Ronnie Von e Tony Osanah, já havia aparecido no Roberto Carlos 77), "Indaguei a Mente" (talvez a melhor do disco) e "História do Fogo" (que mostra que além de bonita, Alessandra Negrini, sua mulher, canta deliciosamente).

Lô Borges fez um disco bem pop, acessível e eficiente. continua com boa mão para refrões ganchudos e, apesar de fazer uma versão desnecessária de "quem sabe isso quer dizer amor", de sua lavra, acerta em cheio nos arranjos e no tom médio de toda a concepção. nada de novo, mas pop dos bons por quem entende do assunto e passou a adolescência escutando Beatles o dia inteiro. considero desnecessária a versão citada porque ela já havia aparecido no belo Pietá, de Milton Nascimento, com um arranjo semelhante. poderia ter ousado e desconstruído a canção, o que destoaria do restante do disco, ou deixá-la de fora, já que seu público (com exceção do meu amigo Beto) provavelmente prestigiou o disco de seu padrinho.

sexta-feira, novembro 28, 2003

quero falar do Mellotron, aquele ancestral do sampler, popularizado no final dos anos 60. Fico aqui ouvindo o primeiro do King Crimson e me deliciando com a maneira com que Ian McDonald toca o instrumento. São bases pré-gravadas que assemelham-se a uma orquestra, mas servem de sustentação para a bela voz de Greg Lake. In the Court of the Crimson King é uma obra-prima, assim como Lark's Tongues in Aspic (73), Starless and Bible Black (73), e, principalmente, Red (74), um dos discos mais viscerais do progressivo. Todo esse rodeio para voltar no mellotron e perceber que não era tão fácil dominar esse instrumento. Ian McDonald saiu da banda pouco antes do segundo LP, o belo e incompleto In the Wake of Poseidon, no qual Fripp assumiu o mellotron, deixando-o obviamente em segundo plano. Dois discos irregulares seguiram-se (Lizzard e Islands) para que o KC encontrasse novamente seu prumo com o supracitado Larks Tongues in Aspic. Conclusão: assim que o genial Fripp conseguiu fazer com que sua guitarra fosse a marca registrada da banda, voltaram a fazer discos inesquecíveis como o primeiro (onde o som do Mellotron impera). Parece pouco, mas é uma história de amadurecimento notável para quem perdeu um músico fenomenal como Ian McDonald. Não se faz música predominantemente racional de uma hora pra outra.

quinta-feira, novembro 27, 2003

continuando em Bowie, impressionante como as canções que figuravam em lados B dos compactos fase Ziggy são ótimas. "Holy Holy" e "The Supermen", então, são duas obras-primas escondidas como bônus dos CDs da Ryko (fora de catálogo) e reapareceram na versão dupla de aniversário do Ziggy Stardust. . ouvindo este disco e depois Aladdin Sane, dá para entender porque o primeiro é considerado genial por quase todo mundo enquanto o segundo permanece como um disco menor. Ziggy brilha de primeira, não exige novas audições para que seja aceito sem senões. Alladin é mais esquisitão, menos direto, tem elementos de vaudeville e free jazz, tem revisionismo (Drive in Saturday), mas tem uma das mais lindas baladas já feitas: "Lady Grinning Soul". adoro os dois discos, mas sob tortura escolho Aladdin Sane.
como dica para quem não está com os limites de crédito vencidos, vale procurar a edição especial da Mojo sobre o músico. uma bela edição de 145 páginas, com ensaios sobre os principais discos e uma biografia de qualidade, como já é padrão da revista inglesa. lanço um desafio: existe artista popular mais completo que David Bowie?

terça-feira, novembro 25, 2003

o novo do Bowie, Reality, está bem legal. mais uma vez os resenhistas destacaram uma volta ao som que ele fazia nos anos 70s, mas já foi assim com os dois discos anteriores. então concluimos que Reality segue no caminho aberto por Hours e aperfeiçoado com Heathen. na verdade, fica num meio termo entre o pop bem acabado e mais agressivo destes e a crueza revisionista do Tin Machine. minha preferida, por enquanto é a primeira, "New Killer Star", uma das mais roqueiras do disco (que vai ficando mais pop depois da terceira faixa). o problema é o custo, mais de 30 mangos, o que configura mais um roubo Heathendesses executivos inescrupulosos das grandes gravadoras. mando um link do meu site (Tem que Acontecer) com um balanço da carreira de Bowie disco a disco. http://www.temqueacontecer.hpg.ig.com.br/temqueacontecer.passado.dwt

segunda-feira, novembro 24, 2003

esperava que o novo Let it Be, a mais recente maneira de pagar a fiança de Michael Jackson, seria uma picaretagem. só que eu não fazia idéia de que o engôdo seria tão grande. indicado apenas para beatlemaníacos nerds ou maníacos completistas. mas estes já deviam ter alguma (s) das inúmeras piratarias, a mais conhecida sendo a caixa italiana Artifacts contendo as versões mais cruas, sem as belas orquestrações de Phil Spector. então a quem serve este ...naked? a quem quiser ouvir os trechos de ensaios contidos no cd bônus, e aos malucos acima.
pra começar, não podia deixar de registrar meu encanto com o segundo disco do Strokes, Room on Fire. Melhor que o primeiro, mais eclético, com uma pegada new-wave, como o segundo e subestimado álbum do Elastica. Room on Fire tem uma capa pouco chamativa, mas é louvável que a banda resolva lançar um disco de menos de 40 minutos de duração. Numa época em que artistas enchem o tempo todo do disco, deixando-os com gorduras, por vezes indigestas, Strokes lança um CD com tempo de vinil, com 11 faixas que primam pela capacidade de se integrar a um imaginário audiófilo (se é que isso existe) de como a banda deva soar sem ser redundante, mas mantendo a identidade. Um exemplo a ser seguido.
escuto agora Atomic Rooster, In Hearing of, o terceiro da banda, segundo a contar com mestre John DuCann na guitarra. que me perdoem os fãs do primeiro mas este e Death Walks Behind You (segundo) são os melhores. Cann veio do Andromeda, uma das melhores bandas hard-rock que já ouvi, cujo único disco, de 1969, definiu (com outros, claro) as bases do rock pesado que vigoraria na década seguinte. Após In Hearing Of, Chris Farlowe entra na banda para lançar dois bons discos, ainda que bem inferiores aos da fase DuCann. Esqueça Headline News, o equivocado álbum de 1983. em compensação, vale procurar o raríssimo álbum homônimo que a banda lançou em 1980 (de capa azul) bem como o interessante cd da Voiceprint com Vincent Crane e Arthur Brown debulhando. dá até pra ouvir os riscos do vinil usado para a edição.