quarta-feira, novembro 26, 2008

Tava reouvindo alguns discos da banda inglesa XTC. Impressionante como depois de acertar o prumo com Drums and Wires e Black Sea eles entraram em um período de indefinições e melodias estranhas - justamente a época do colapso nervoso de Andy Partridge, que quis sozinho imitar os Beatles e não fazer mais shows. Lançaram três discos irregulares, English Settlement, Mummer (um dos momentos mais fracos da carreira da banda) e The Big Express, um sinal de que a coisa estava já bem melhor.

Em seguida, embarcaram nas gravações da obra-prima Skylarking, com produção do mago Todd Rundgren. Daí em diante só voltariam a fazer um disco que não fosse excelente em 2000, quando lançaram Wasp Star.

White Music (1978) * *
Go 2 (1978) * *
Drums and Wires (1979) * * * *
Black Sea (1980) * * * *
English Settlement (1982) * * *
Mummer (1983) * *
The Big Express (1984) * * *
Skylarking (1986) * * * * *
Oranges and Lemons (1989) * * * *
Nonsuch (1992) * * * *
Apple Venus Pt 1 (1999) * * * * *
Wasp Star (Apple Venus Pt 2) (2000) * * *

obs: ficaram de fora desta lista de cotações o projeto The Dukes of Stratosfear, que rendeu um EP e um LP entre 1984 e 1985 (ambos bem legais) e a coletânea de raridades Homegrown, que é bem interessante.

terça-feira, novembro 04, 2008


Ode ao Heavy Metal:

Não foi o primeiro álbum de metal que eu tive. Foi o quarto, se não me engano. Ou o primeiro, se levarmos em conta que Deep Purple e AC/DC não são metal. O fato é que British Steel, do Judas Priest, mudou minha vida em 1981.

Aquele foi o ano em que deixei de ouvir Queen, Rolling Stones e Beatles para buscar coisas mais pesadas. O ano da descoberta dos básicos do Rock pesado, um ano antes de quando vendi o Jazz, uma das obras-primas do Queen, com poster e tudo, por uma bagatela, para ir à Woodstock, que na época ficava na Rua José Bonifácio, comprar Scorpions (Blackout).

Foi assim, com os básicos do Heavy Rock, que segui vivendo feliz e pseudo-rebelde até o comecinho de 1985, quando a Globo criou a definição metaleiro e vários adolescentes descobriram que era legal curtir o estilo e deixar o cabelo crescer. Era a hora de radicalizar. Troquei meus discos do Saxon, Judas e Scorpions por coisas mais agressivas como Metallica, Anthrax e Destruction. Andava pelos corredores do Firmino de Proença - onde fiz todo o segundo grau - amaldiçoando fãs de Kiss, Aerosmith e outras coisinhas leves.

Nessa mesma época, fui com um vizinho e meu irmão ao Rock Show, um cinema que só passava shows de rock e que deve ter fechado pouco depois. Lembro que vimos uma turnê do Venom (do terceiro disco, At War With Satan), e voltamos para casa tarde da noite, descendo a rua abraçados e batendo o pé, cantando num uníssono embriagado não de bebida, mas de genuína felicidade: "countess... bathory" - uma das faixas do Black Metal, segundo álbum do Venom, e de onde saiu o nome de uma banda sueca (se não me engano) chamada Bathory (cujos dois primeiros discos eu achava antológicos na época - nunca mais os escutei).

Claro que essa fase não resistiu até o verão seguinte, quando caí de cabeça no tecno pop e no new romantic e passei a usar tênis iate e calças de popelina (lembram da Ron Jon?). Comecei a ouvir 14 Bis e pirei com o terceiro disco dos caras, Espelho das Águas.

Depois veio a fase progressivo, que consumiu vários anos da minha vida. Durante essa fase progressiva, descobri muitas coisas boas que não tinham nada a ver com progressivo, e que me deixaram com gosto musical bem eclético, exceto por não querer mais saber de metal (realmente, a Globo na época enchia o saco com aquele lance de metaleiros). Admirei as bandas grunge, mas nunca as comparei com o metal que eu adorava anos antes. Preferia voltar a Velvet Underground e Joy Division (mas Doors nunca fez minha cabeça)

Voltei a curtir metal como um doido quando comecei a trabalhar na Nuvem Nove, a loja de Cds e Lps do meu amigo José, em 1997. Nessa época vários discos raros começaram a sair em CD na Europa, e a paridade do real com o dolar permitia que eu tivesse todos eles, e relembrasse as audições em fitas sujas gravadas na galeria do Rock (Forged In Fire, do Anvil; The Natives are Restless, do Hawaii; Infernal Overkill, do Destruction; Fire in the Brain, do Oz, e tantos outros).

Em 2000, montei minha própria loja, e o que mais me satisfazia não era vender vários discos para um descolado qualquer que saísse vibrando com coleções quase completas do Pavement ou do Yo La Tengo (bandas boas, por sinal), mas um desconto caprichado para um morador de periferia que quisesse ter em sua coleção o primeiro Piledriver (Metal Inquisition = clássico), ou o primeiro do Metal Church, ou do Avenger alemão (que depois virou Rage). Era a felicidade desses fãs humildes que me emocionava. Era para eles que eu queria vender. Eles lembravam minha adolescência, quando um disco comprado era motivo para a maior felicidade do mundo, e quando eu lembrava onde e quando tinha comprado cada vinil de minha coleção.

De lá para cá, nunca mais deixei de escutar discos do estilo, pela energia que provocam, pela felicidade meio adolescente que fazem surgir mesmo nos dias mais tristes, pela fúria que jorra dos sulcos. Mas nunca mais tive o prazer de comprar um vinil desses, prazer que as facilidades do MP3 não traz de volta.

O que quero dizer com este post muito pessoal? Não sei. Só sei que em alguns dias a melhor coisa para se escutar é um bom e virulento disco do Slayer, por exemplo. Cura até gripe chata.