quarta-feira, março 16, 2005

TRIBUTO A CAETANO VELOSO - PARTE 4

de A Outra Banda da Terra à cinefilia em disco

Outras Palavras (1981) * * * * *
Se Caetano, desde o começo, buscou a junção entre tradição e modernidade. Se ficou sempre, e propositadamente, numa encruzilhada entre o erudito e o popular, às vezes beirando graciosamente a música tida como "brega", talvez este disco seja o mais bem-sucedido de toda a sua carreira. Nele observamos com perfeição todo o trabalho musical do compositor, com arranjos pop, de fácil assimilação, mas com letras e métricas de uma originalidade poucas vezes igualada em qualquer lugar do mundo (e aí estou relativizando o uso das diferentes linguas - um paralelo seria Jacques Brel, com suas brincadeiras fonéticas, ou Leonard Cohen, com sua sensibilidade e perspicácia). Se eu tivesse que escolher um disco para exemplificar o que seria a carreira desse grande músico, provavelmente seria esse. Destaques?: Outras Palavras, Vera Gata, Lua e Estrela, Dans mon Île, Rapte-me Camaleoa, Tem Que Ser Você. Aliás, se tivesse que escolher uma só música, escolheria provavelmente Rapte-me Camaleoa.

Cores Nomes (1982) * * * *
Disco que confirmou a fase cor-de-rosa de Caetano. Fase que se encerraria com Velô, disco que conta com outra banda de apoio. Aqui, ainda com a Outra Banda da Terra, tem "Trem das Cores", uma das prediletas de sempre. Tem "Queixa", música perfeita para ilustrar o fim de uma relação. Dolorida e consciente como só Caetano conseguia ser. E tem uma das maiores canções escritas por ele, a incrivelmente pessoal e inusitada "Ele me Deu um Beijo na Boca", deliciosa faixa de sete minutos que brinca com a métrica e dialoga com o pai. Um encontro brilhante e sensível entre duas culturas, duas formações que não se excluem e se completam. Um hino ao aprendizado. Um clássico. Pena que o restante do disco caia bastante em comparação. "Sonhos" é melhor com o Peninha. Mas "Sina" tá bem legal.

Uns (1983) * * * * 1/2
Um grande disco, embora já não ache mais a obra-prima que achava quando o conheci. O lado B é desigual, mas os grandes momentos são muitos. É um disco mais pop que Cores Nomes. Mais fácil de ser digerido. E se não tem faixa tão genial quanto "Rapte-me Camaleoa" e "Ele me Deu um Beijo na Boca", tem as deliciosas "Uns", "A Outra Banda da Terra" (que exemplifica essa fase com precisão), "Vocé é Linda" e "Eclipse Oculto", música irmã de "Queixa", mas, como notou o amigo Pet, uma irmã mais descompromissada e solta, disposta a novas aventuras e a perdoar o outro lado.

Velô (1984) * * * * *
Curiosamente, Caetano já disse não ter gostado muito desse disco. Eu, pelo contrário, a cada ano gosto mais. Com uma nova banda (Banda Nova...desculpe), Caetano mergulha na new-wave e na febre de sintetizadores imbecis e sai de lá com uma pérola. Incrível a capacidade que ele tem de se banhar das piores coisas da época e sair com grande música. Vejam "Shy Moon", por exemplo. Tudo que ele podia fazer de errado, fez com essa canção. Mas algo de muito belo está por trás dela. Talvez seja até sua posição no disco, entre a esquisita "Sorvete" e a genial "Língua". Talvez fosse necessário ter quatro minutos de "Shy Moon" para melhor se apreciar "Língua". E o disco ainda tem "Quereres", "Podres Poderes", outra bela versão de "Nine Out of Ten" e a tocante e inacreditavel "O Homem Velho", espécie de homenagem à igualmente bela "O Velho", de Chico Buarque (1968).

Totalmente Demais, ao vivo (1986) * * * *
Caetano mandando muito bem ao vivo. Esse disco praticamente encerra a fase rosa, que muitos já chamaram de fase velô, ou fase totalmente demais. Com várias inéditas, o disco inaugura uma série de ao vivos de alta vendagem (alguns lançados de forma exagerada) e de qualidade indiscutível. Destaques: Vaca Profana, O Quereres, Pra que Mentir e Lealdade.

Caetano (1987) * * * *
Falava-se, à boca pequena, na época, que era o disco cinéfilo de Caetano, principlamente por causa de Giuletta Masina, a tocante homenagem à alma gêmea de Fellini. O próprio Caetano declarava na época que seu filme preferido era Noites de Cabíria. Várias outras canções têm uma capacidade onírica e imagética muito forte, e por isso o que o disco tem de irregular, tem também de recompensador para quem se disponha a escutá-lo com atenção. Ouça "Valsa de uma Cidade" e entenda o que estou dizendo. Mas a crise criativa se anuncia, e iria dar as caras fortemente no próximo disco, Estrangeiro. Mas isso fica na próxima parte.

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