quarta-feira, setembro 29, 2004

Estava pensando outro dia na decadência dos artistas nacionais no começo dos anos 80. Com a chegada dos sintetizadores ao pop brazuca, os artistas da MPB resolveram aderir e fizeram, na maioria das vezes, discos pavorosos. Moraes Moreira, Zé Ramalho, Guilherme Arantes, Amelinha, Fagner, Belchior, A Cor do Som, e inúmeros outros caras de talento sucumbiram à ditadura dos arranjos Lincoln Olivetti, com aquelas teclas de som de elevador. Mesmo Djavan, que vinha de grandes discos, e Jorge Ben, que dispensa comentários, fizeram troços vergonhosos. Djavan fez Lilás, seu sucesso de vendas, e pior disco, o que prova que daninho por daninho, o estilo musak iria imperar por mais tempo na MPB. Jorge Ben fez discos pavorosos nos 80, se recuperando parcialmente depois da mudança para Jorge Benjor, e a adoção de vez do funk elétrico.
Caetano continuou sem decepcionar. Incorporou brilhantemente a nova sonoridade na obra-prima Outras Palavras (1981 * * * * *), e seguiu com discos excelentes como Uns (1983* * * *) e Velô (1984 * * * *1/2). Gil foi mal, fazendo apenas Raça Humana de interessante no período. E Tim Maia nem se fala, limitando-se às melodias de efeito de Sullivan e Massadas, sem inspiração para manter os LPs no mesmo nível. Sem tempo para pesquisar, arrisco dizer que foi essa indefinição que estagnou o pop nacional durante esses anos, e responsável por uma safra que, apesar de redefinir os rumos da MPB através de pesquisas com sonoridades legitimamente brasileiras (e falo aqui de caras como Zeca Baleiro e Lenine), enterrou qualquer possibilidade de avanço, deixando a MPB nesse nicho patético em que ela se encontra hoje. Claro que existem as exceções, o próprio Zeca vem melhorando e aprendendo com os erros. Mas é triste que João Bosco, Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque e Milton Nascimento continuem a ser as melhores esperanças de grandes discos ainda por vir. Da safra nova, não espero migalhas. Salvo as exceções, que de tão inexpressivas, fogem da memória.

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