Foi um período difícil para Todd Rundgren o miolo dos anos
1970. Ele que já havia mostrado um talento quase inigualável como compositor
desde os primeiros discos com o Nazz, e explodiu definitivamente com três
discos impecáveis feitos em sequência – Something/Anything
(1972), A Wizard: A True Star (1973)
e Todd (1974) -, respectivamente o
terceiro, quarto e quinto discos solos de sua carreira, parece ter entrado em
parafuso após este último. Após a gradual complexificação de seu pop/rock
orientado para canções, operação que confundiu os críticos que gostariam de
mais Something/Anything. Para onde ir agora? – é o que devia se perguntar Todd
à época da ressaca de Todd.
A resposta inicial foi montar uma nova banda, a exemplo do
que fez Paul McCartney dois anos depois de sair dos Beatles. Utopia seria essa
banda, e teria a proposta de responder ao som do momento de maneira criativa,
ou seja, expandindo uma vertente específica daqueles tempos, no caso, o rock
progressivo. Por mais que o primeiro disco desse projeto seja muito inferior ao
trabalho solo de Rundgren até então, havia ali qualquer coisa do gênio a que
estávamos acostumados.
Isto é algo praticamente ausente de Initiation (1975), com o qual deu prosseguimento à carreira solo.
Meio prog, meio místico, meio disco, esse disco insólito tem mais de uma hora
de duração, em um único disco de vinil (imagine a fragilidade da mídia física,
com os sulcos todos esprimidos para que caibam todas as músicas), uma porção de
boa música junto de algumas bobagens e nada, absolutamente nada que fizesse jus
à grandeza desse músico.
Pior é o disco seguinte, Faithful,
lançado após um disco ao vivo do Utopia, em 1976. Com o primeiro lado só de
covers, Todd Rundgren desceu onde nunca havia descido em sua carreira. Primeiro
pelas escolhas, óbvias. Depois pela falta de imaginação nas versões, que em
nada acrescentavam às suas originais. O lado B, só de composições próprias, é
bem melhor (embora longe da excelência do período 72-74), mas o estrago estava
feito.
Sua carreira, felizmente, entraria nos trilhos em 1978,
quando, após dois bons discos do Utopia – RA
e Oops Wrong Planet, ambos de 1977 –
ele lança mais um ótimo disco solo de pop-rock (quase tão bom quanto o mais
aventuroso Todd). Hermit of Mink Hollow é o nome do disco,
que contém faixas mais curtas e simples, e vem com o hit "Can We Still Be
Friends".
P.S. Sempre esqueço de colocar The Ballad of Todd Rundgren (1971), seu segundo disco solo, no lugar que lhe é devido: o de obra-prima absoluta. Ou seja, são quatro discos impecáveis em sequência ali na primeira metade dos anos 70.