quarta-feira, março 23, 2005

TRIBUTO A CAETANO VELOSO - PARTE 5

da polemização à fórmula perigosa

Estrangeiro (1989) * * *
Mais uma vez o problema está no lado B (considerando o vinil), ou a partir da sexta faixa. A rigor, temos três imensas composições aqui: "Estrangeiro", com sua letra que causou certa polêmica na época, mas que é muito inteligente e pertinente, "Outros Românticos" e "Jasper". E uma música muito fraca, uma das mais fracas de todo o repetório de Caetano: Meia Lua Inteira, de Carlinhos Brown, bom compositor, às vezes muito bom, mas que aqui escorregou feio. E a interpretação de Caetano de nada ajuda. Uma entressafra, sabemos agora.

Circuladô (1991) * * * * *
É impressionante como o músico tem uma enorme capacidade de aprender com os próprios erros. Por vias tortuosas, já que imagino que ele mesmo não tenha consciência disso, Circuladô é tudo que poderia ter dado certo em Estrangeiro, acrescido das doses exatas do que faltou àquele disco. Ou seja, tem os trechos em que ele ousa, mas sem se preocupar muito com um formato vendável de ousadia. Tem flertes sérios com a música regional, mas fazendo com que ela não pareça algo pra turista ver, ou algo regional como uma novela da globo. Eis Caetano de volta à sua grande forma, com um disco que condiz com sua genialidade. Não sou muito de ir a shows, em parte pelo tempo que se perde, mas o show desse disco eu vi e foi um dos grandes shows que vi na vida. Ah...e dessa vez o lado B é tão bom ou até melhor que o A. Destaques (quase tudo de novo): Fora da Ordem, Circuladô de Fulô, Boas Vindas, Itapuã, Santa Clara Padroeira da Televisão, Neide Candolina, A Terceira Margem do Rio, O Cú do Mundo.

Circuladô Vivo (duplo ao vivo) (1992) * * * * *
Como já disse, fui a um show dessa turnê. Então pouco tenho a acrescentara esse registro. Pelo que lembro, foi um enorme sucesso de vendas para os padrões dele. Covers muito boas de Michael Jackson (Black or White), Bob Dylan (Jokerman), Djavan (Oceano) e Roberto e Erasmo (Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos), além de velhas releituras de sucessos dele mesmo ou de outros mais algumas canções do Circuladô fazem do disco o melhor registro ao vivo da carreira de Caetano.

Tropicália 2 (com Gil) (1993) * * * * *
Será que ele não se cansa de fazer obra-primas? Desta vez Gil também é culpado. Nunca o Brasil e a situação mundial, e como ela se relaciona com os brasileiros, foi tão bem comentada em disco. Temos "Haiti", que cutuca a política social do governo Itamar, "Cinema Novo", que acena para um diálogo entre o cinema que estava prestes a renascer por aqui e o cinema novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, "Wait Until Tomorrow", uma brilhante versão para a música de Jimi Hendrix. Temos sobretudo a genial "As Coisas", faixa que beira o progressivo, composta por Gil e Arnaldo Antunes, e "Cada Macaco no Seu Galho", de Riachão. Muito mais revolucionário que o original Tropicália, que apenas compilava faixas mais radiofônicas dos trabalhos revoilucionários dos tropicalistas usuais, Tropicália 2 aponta para novas maneiras de se reler o samba e outras musicas populares brasileiras. Infelizmente, essas novas maneiras foram seguidas por muito poucos.

Fina Estampa (1994) * * * *
Um disco bonito, sem dúvida, que parece acenar para uma vontade de experimentar suas capacidades de crooner (essa vontade pelo jeito segue forte até hoje). No caso, são tangos e boleros cantados em espanhol, provando a imensa elasticidade de sua voz. Sucesso na terceira idade, prepara o cantor Caetano Veloso para uma espécie de nicho entre Roberto Carlos e Chico Buarque. Destaques: Tonada de Luna Llena, Recuerdos de Ypacarai, Pecado, Lamento Borincano, Vuelvo ao Sur.

Fina Estampa ao Vivo (1995) * * *
Ops...fórmula à vista. Um disco de estúdio, um disco ao vivo, e assim consecutivamente. Fórmula preguiçosa e, ao que parece, imposta pelas gravadoras, essas incorporações que lutam com todas as forças para destroir a integridade de seus artistas, além de contribuirem para a ignorância musical do país deixando de relançar muita coisa importante. Só escutei uma vez esse disco, mas na época me pareceu extremamente desnecessário, ainda que bonito e coisa e tal...Não deveria dar cotação? Ah...pode relaxar aí que eu não estou ganhando nada fazendo isso, só estou relatando impressões.

2 comentários:

O Luzíada disse...

Sergio, no Estrangeiro tem Ginipapo Absoluto, uma pequena obra-prima, melodia rica, intervalos atípicos. Etc. tb vai ma mesma linha, abs, viva Caeatno, o maior artista brasileiro desde 1967, Marcelo

O Luzíada disse...

Genipapo. Procurei muito essa canção nos tempos de Kazaa, 2002, 2003, acho que nao consegui, ao menos nao nesta gravação, abs M.