terça-feira, março 23, 2010

Ode ao Moody Blues

Não é de hoje que The Moody Blues é uma das minhas bandas favoritas. Meu irmão diz que é som de velho, depois completa: "mas eu gosto!!!" Não sei. A parede sonora que eles fazem é tudo, menos som de velho. Mas entendo que as melodias compostas por Hayward, e de certo modo também as de Pinder, pareçam saídas da mente de um velho sábio.

Days of Future Passed(1967) * * * *

As passagens orquestradas atrapalham um pouco a fruição deste disco cheio de melodias inspiradas, que marca o verdadeiro início de carreira da banda (a encarnação anterior, com Pinder e Danny Laine - sim, aquele do Wings - dando as cartas é sub-beat sem maior interesse).

Destaques: Forever Afternoon (Tuesday?), Time To Get Away, Nights in White Satin.


In Search of the Last Chord (1968) * * * 1/2

Um claro retrocesso em relação ao primeiro LP, e certamente o álbum mais fraco deles no período clássico (1967-1972). Algo não vai bem com as melodias do disco, que parecem sufocadas num desejo de experimentar com texturas que também não vai muito longe. É o disco psicodélico da banda.

Destaques: Ride My See-Saw, Voices in the Sky, The Best Way to Travel, The Actor.


On the Threshold of a Dream (1969) * * * * *

A inspiração volta com tudo neste disco brilhante, espacial, cheio de introduções e belas canções que se fundem. Não existe uma única faixa que não seja extraordinária. Curiosamente, atrás da parede sonora que eles criam, as melodias parecem datadas, como se fossem compostas no início do psicodelismo, em 1966. Esse talvez seja o maior charme dessa fase da banda. Sem contar que "Lazy Day" é a melhor composição da carreira de Ray Thomas (sem contar a monumental "Watching and Waiting", que compôs em parceria com Hayward) empatada com "For My Lady", do Seventh Sojourn.

Destaques: Lonely to See You, Send Me No Wine, So Deep Within You, Lazy Day.


To Our Children's Children's Children (1969) * * * * 1/2

Este talvez seja o disco mais melancólico do Moody Blues, banda melancólica por excelência. Isto talvez explique o fato de ter sido o álbum menos bem sucedido em vendas em sua fase áurea. O duelo entre as composições de Lodge e Hayward fica ainda mais claro aqui, como se Brian Wilson e Paul McCartney fossem da mesma banda.

Destaques: Out and In, Gypsy, Candle of Life, Watching and Waiting.


A Question of Balance (1970) * * * * *

Um disco mais direto - roqueiro, alguns diriam, sem muitas delongas. Aqui não há espaço para introduções poéticas de Edge, a não ser na excelente "The Balance", em que ele está bem contido. Em compensação, a exemplo de On the Threshold of a Dream, fica difícil destacar faixas. Todas são magníficas.

Destaques: Question, Don't You Feel Small, It's Up to You, Dawning is the Day.


Every Good Boy Deserves Favour (1971) * * * * 1/2

Tirando a dispensável "Procession", é uma espécie de continuação de A Question of Balance, e tão inspirado quanto em alguns momentos. "The Story in Your Eyes" é uma das três ou quatro melhores canções do repertório da banda, e dá para dizer o mesmo de "Emily's Song". Graças a essas duas, o disco merece a meia estrela a mais e a quarta posição num ranking Moody Blues.

Destaques: The Story in Your Eyes, Emily's Song, You Can Never Go Home, My Song.


Seventh Sojourn (1972) * * * * 1/2

O canto do cisne dessa primeira fase - disparada a melhor da banda. Hayward e Pinder matam a pau. Lodge compõe a estranha "Isn't Life Strange", que está belíssima no ao vivo de 2005. Trata-se de um disco mais direto, com arranjos mais simples e melodias, como sempre, impressionantes.

Destaques: Lost in a Lost World, New Horizons, For My Lady, When You're a Free Man, The Land of Make-Believe.


Caught Live + 5 (1977) * * * *

Três lados ao vivo no período de 1967 a 1969 + um lado de outtakes gravados por volta de 1967. É um belo disco de retrospectiva, melhor ainda pelas cinco brilhantes faixas de estúdio (incrível que três delas tenham ficado fora dos discos de carreira) que encerra a fase mais rica da banda, e prepara o terreno para a volta com o irregular Octave.

Destaques: Gypsy (live), Are You Sitting Confortably? (live), Nights in White Satin (live), Please Think About it, Long Summer Days, King and Queen.


Octave (1978) * * 1/2

Depois de um intervalo de seis anos, a banda volta com este disco que finalmente mostra a predominância de canções de Justin Hayward, responsável pela maior parte das grandes composições dos Moodies até então. Infelizmente, Hayward já não é o mesmo, como já assinalava o projeto Blue Jays (com Lodge) e seu disco solo Songwriting (lançado um ano antes de Octave). Os destaques aqui seriam as músicas mais fracas de qualquer disco deles entre 1969 e 1972.

Destaques: Steppin' in a Slide Zone, Had to Fall in Love, I'm Your Man.


Long Distance Voyager (1981) * * * *

Sai Mike Pinder, entra Patrick Moraz. Nenhuma grande mudança na sonoridade em relação a Octave. A diferença está nas melodias. Um sopro forte de inspiração de apoderou de Hayward e Lodge, e eles compuseram canções à altura da fase clássica da banda. Deixo vocês com o excelente texto do All Music Guide:

http://www.allmusic.com/cg/amg.dll?p=amg&sql=10:w9fuxqw5ldke

Destaques: The Voice, Talking Out of Turn, In My World, Nervous.


The Present (1983) *

Fico deprimido quando resolvo dar nova chance a este disco. Como puderam descer tão baixo? Sem destaques.


The Other Side of Life (1986) * *

Daria um bom EP, o que é muito mais do que se pode dizer de The Present. Os arranjos ainda estão bregas, mas as composições são melhores que as do álbum anterior. O problema é que não há a menor possibilidade de surpresa. Parecem máquinas de fazer pop de FM, com melodias requentadas de um passado glorioso.

Destaques: Wildest Dreams, The Other Side of Life, It May be a Fire.


Sur la Mer (1988) * * 1/2

Os anos 80 foram terríveis para a maior parte das bandas formadas durante os anos 60. Por isso Long Distance Voyager soou tão bem em 1981 - foi um disco que soube se adaptar à nova era. Sur la Mer, como vem sendo desde The Present, mostra uma banda envelhecida, com ferrugem. Mas percebe-se uma massa musical mais empolgante, algo como um Electric Light Orchestra na fase Secret Messages. Isso dá uma certa esperança de que eles voltem à forma de 1981.

obs: neste disco deram um tapa nos demais membros da banda. Só entraram composições de Hayward e Lodge.

Destaques: I Know You're Out There Somewhere, Want to be With You, River of Endless Love.


Keys of the Kingdom (1991) * 1/2

Com um som menos encorpado que o do disco anterior, Moody Blues faz sua entrada nos anos 90 com muito mais cautela do que havia mostrado quando entrou nos anos 80. KOTK é mais direto, como um Seventh Sojourn empobrecido espiritualmente. Infelizmente, poucas canções se livram do mar de ruindade em que eles mergulharam neste disco. Ray Thomas consegue o ponto mais baixo de sua carreira com "Celtic Sonant", e algumas outras faixas estão no mesmo nível. Uma pena.

Destaques: Bless the Wings, Is This Heaven?


Strange Times (1999) * * *

Estranho como, após mais um hiato, desta vez de oito anos, a banda volta soando mais como o a-ha do que como seu disco anterior, Keys of the Kingdom. Ouça as duas primeiras do disco para comprovar, duas composições de Justin Hayward: "English Sunset" e, principalmente, "Haunted". Nesta segunda o vocal de Hayward até se parece com o de Morten Hacket, da banda norueguesa. Isso dá um sopro de vitalidade à banda, que pela primeira vez faz um som mais próximo do moderno. Mas nada disso adiantaria se as composições não fossem inspiradas. Felizmente, a maior parte delas são. Infelizmente, o disco tem quase uma hora de duração, e fica mais difícil não ser irregular com 14 faixas. Sorte que as canções boas são as melhores desde Long Distance Voyager.

Destaques: Love Don't Come Easy, Strange Times, The One, Nothing Change.


December (2003) * *

Músicas natalinas intercaladas com composições próprias. Ora, que ideia...

Destaques: Don't Need a Reindeer, In the Quiet of Christmas Morning (Bach 147).


Lovely to See You - Live (2005) * * * *

Este é o melhor disco ao vivo deles desde Caught Live, lançado em 1977. Não duvido que seja o melhor de toda a carreira dos moodies. A banda soa com muita energia, o que faz muito bem às composições costumeiramente cheias de Hayward e Lodge e também aos arroubos poéticos de Edge.

Destaques: The Actor, Talking Out of Turn, The Story In Your Eyes, Higher and Higher, Are You Sitting Confortably?, Questions.


sábado, março 13, 2010

Hot Chip e o revival oitentista

Outro dia o Álvaro Pereira Junior falou de uma resenha de Andrew Mueller, da Uncut, sobre o novo disco do Hot Chip. A resenha é realmente boa, como quase tudo na Uncut, a melhor revista musical de longe (e tem gente que perde tempo com a Pitchfork). Resolvi escutar os discos da banda londrina, que não conhecia, e me surpreendi com a sonoridade oitentista (da segunda metade), realmente muito calcada em um aspecto da obra do Depeche Mode (principalmente nos últimos LPs). Belíssima banda que cobriu uma lacuna que eu nem sabia existir em minha parca formação musical para bandas deste século.



Coming on Strong (2005) * * * 1/2

A faixa de abertura lembra 10cc - ou as coisas que Godley and Creme fizeram ao sair da banda. Depois começa a alternância entre uma batida levemente dançante, meio lounge, com faixas bem melodiosas, com um belo trabalho vocal e leves texturas eletrônicas. A comparação com OMD, neste primeiro LP, ainda procede.

Destaques: Down With Prince, Shining Escalade, Baby Said.


The Warning (2006) * * * 1/2

Mantendo a mesma proposta de Coming on Strong, mas acentuando a batida, Hot Chip chega a este segundo LP despertando comparações diversas com bandas mais contemporâneas, sobretudo com o inferior Postal Service. É um disco que retrata um momento de indefinição, no qual as faixas mais dançantes são também as mais fortes.

Destaques: Over and Over, Look After Me, No Fit State.


DJ Kicks (2007) * * * 1/2

Algo tão eclético não tinha como não ser irregular. Mas alguns momentos deste disco de remixes são fortes o suficiente para manter o interesse até o fim.

Destaques: Like You (Gramme), My Piano (Hot Chip), On Just Foot (Black Devil Disco Club).


Made in the Dark (2008) * * * *

Desde a primeira faixa fica claro que este é o disco que veio para fincar pé nesta espécie de revival oitentista que a banda ajuda a promover. Claro que nesse revival a referência óbvia é o Depeche Mode de Black Celebration, com suas texturas progressivas e batidas dançantes aprofundadas num formato pop irresistível. Mas as referências não param por aí. Bomb the Bass, Clock DVA, Was Not Was e outras coisas dispersas ajudam a moldar o som do Hot Chip sem que eles pareçam, no entanto, uma banda na cola de outras. A identidade está ali, forte, pulsante, e vai desde as escolhas dos ingredientes até a dosagem com que esses ingredientes são apresentados, mesclando os mais referenciais com as esquisitices. Um discaço, pop e cheio de estranheza ao mesmo tempo, como a faixa "Don't Dance" sintetiza muito bem..

Destaques: Out at the Pictures, Ready for the Floor, One Pure Thought.


One Life Stand (2010) * * * *

Com o estrondo chamado "Thieves in the Night" começa este novo disco dos Hot Chips, o quarto LP de carreira, sem contar EPs e o disco de remixes DJ Kicks. Como o páreo é duríssimo, não vou dizer ainda que é o melhor disco da banda. Mas é bem possível que seja. Aqui o que chama a atenção são as melodias, as melhores que a banda já fez, e a diferença se sente nas baladas, inspiradíssimas. É um disco mais fácil de ser gostado do que o estranho Made in the Dark, e por isso prefiro cautela antes de carimbá-lo como superior.

Destaques: Thieves in the Night, One Life Stand, Take it In.

quarta-feira, março 10, 2010

Savatage

Numa recente viagem, reouvi os discos desta banda da Flórida, até Streets, último que tem vocal principal de Jon Oliva. A partir de Edge of Thorns, a banda consolidou um estilo, mas se tornou comum. Uma boa banda comum.

Sirens (1983) * * * * 1/2
Um OVNI a guitarra de Criss Oliva. Um amigo/vizinho que tocava guitarra muito bem dizia que sua afinação era uma oitava acima, o que produzia aquele som estranho, que eu nunca tinha ouvido, de uma guitarra ácida, meio psicodélica, cheia de eco, que combinava direitinho com o vocal sujo de Jon Oliva, seu irmão. A sonoridade de Sirens seria aos poucos domesticada nos álbuns seguintes, até sumir por completo. Criss Oliva foi podado, provavelmente em nome do estrelato. Um crime.
Destaques: Sirens, I Believe, Out on the Streets.

The Dungeons are Calling EP (1985) * * * * 1/2
Uma belíssima sequência do álbum de estreia, ainda mais pesado e ácido.
Destaques: The Dungeons are Calling, By the Grace of the Witch.

Power of the Night (1985) * * * * *
Versão para FM do clássico Sirens. Por incrível que pareça, deu certo. Talvez porque eles miraram em alguma FM menos comercial. Percebe-se a formatação mais límpida, mas a guitarra mágica de Criss Oliva ainda reina soberana, intocável.
Destaques: Power of the Night, Unusual, Fountain of Youth.

Fight for the Rock (1986) * * * 1/2
Algumas covers e uma regravação sem noção podem confundir os incautos, mas o fato é que Fight for the Rock pode muito bem ser um retrocesso, mas ainda assim é um disco digno.
Destaques: Red Light Paradise, Hyde, Lady in Disguise.

Hall of the Mountain King (1987) * * * *
Saudado na época como uma continuação de Sirens, o retorno ao som mais pesado, este quarto LP mostra uma banda completamente redonda, com tudo bem lapidado, o que inclui uma sonoridade menos agressiva e estranha da guitarra de Criss. As composições, ainda bem, continuam inspiradas.
Destaques: 24 Hours Ago, Legions, Strange Wings.

Gutter Ballet (1989) * * * 1/2
O começo da guinada prog-metal que a banda daria nos álbuns posteriores. Não um prog-metal à Dream Theater (ainda bem), mas inclinado ao Pink Floyd, como o Queensrÿche.
Destaques: Gutter Ballet, Thorazine Shuffle, Of Rage and War.

Streets - A Rock Opera (1991) * * *
Pink Floyd encontra o metal americano. Sinaliza uma direção perigosa, que a banda saberia seguir com destreza, ainda que sem o mesmo encanto de outras épocas. As baladas são todas bregas, mas uma delas é belíssima: "A Little to Far".
Destaques: Jesus Saves, A Little too Far, Ghost in the Ruins.

Edge of Thorns (1993) * * *
Com novo vocal, um disco menos baladeiro que Streets. Criss Oliva já completamente domesticado.

Handful of Rain (1994) * * *
Com a segunda morte de Criss Oliva (desta vez definitiva), a banda encontra um substituto de peso: Alex Skolnick (Testament). Talvez por isso este disco seja o mais pesado da carreira da banda.

Dead Winter Dead (1995) * * * 1/2
Com a chegada de Al Pitrelli e Chris Caffery e a volta de Jon Oliva, mais nos teclados e no vocal de apoio, a banda vira um sexteto, e faz seu álbum mais poderoso desde Gutter Ballet.

The Wake of Magellan (1997) * * * 1/2
Ainda como sexteto, é o disco cuja turnê veio ao Brasil, para deleite de poucos e fiéis fãs. Este disco marca o ápice da sonoridade iniciada em Streets.

Poets and Madmen (2001) * * *
Novamente como quarteto, fazem um disco decente, mas sem maiores novidades. É o derradeiro de uma banda que poderia ter feito história se tivesse ousado manter a guitarra com aquela sonoridade.