domingo, janeiro 28, 2018

Porcupine Tree



Resolvi dar nova chance a essa banda inglesa liderada pelo multi-instrumentista Steven Wilson. Quando eu tinha loja, lembro de ter escutado Signify e Lightbulb Sun, e pelo menos o segundo me soou bem comum à época. Como não tinha visto nada demais, e como tinha lido de muita gente que Lightbulb Sun era o melhor disco deles, desisti de ouvir qualquer outra coisa (me esquecendo do ódio que críticos costumam ter com qualquer coisa que se aproxima de rock progressivo).

Ou seja, ouvindo na ordem cronológica, é possível perceber que até então Lightbulb Sun é o disco mais fraco deles, o único que cai após vários discos diferentes entre si, mas de equivalente valor musical, a meu ver. Porque ao tornar-se pop, enterrando quase totalmente o space rock e as viagens floydianas do passado, o Porcupine Tree tornou-se também uma banda comum, a despeito de uma ou outra boa (e até ótima) melodia, como "Where We Would Be" e de uma insinuante faixa como "Hatesong". O que, no balanço geral, constrói um bom disco, mas claramente inferior a todos que eles tinham feito antes.

Depois desse disco começa a chamada fase metal da banda, o que nada mais é, ao menos se considerarmos somente o disco seguinte, In Absentia, que o mesmo tipo de material mais pop de Lightbulb Sun com uma guitarra mais pesada de vez em quando. Em alguns momentos, nada que um OK Computer já não tivesse mostrado com melhor desenvoltura e composições mais fortes. Em outros, o passado de atmosferas espaciais mostra-se não totalmente enterrado e engrandece composições como "3" ou a prog-metálica "The Creator Has a Mastertape". Há, claro, outros ótimos momentos de prog metal, como na instrumental "Wedding Nails" e sua guitarra desafiadora. É a melhor faixa do disco. E é melhor que quase tudo feito pelo Dream Theater (banda que é sempre lembrada quando se fala de prog-metal).

Deadwing, o disco seguinte, confirma a adesão ao prog metal. É mais pesado que o anterior, refletindo a aproximação de Wilson com a banda Opeth e sua admiração pelos Nine Inch Nails. Fear of a Blank Planet, tido como um retorno à fase anterior, é novamente um prog metal de inspiração Queensrychiana (e nos piores momentos, Fateswarningiana), no qual se destaca a faixa de encerramento, "Sleep Together". No disco seguinte, The Incident, eles voltam a pensar em temais mais complexos, mudanças climáticas mais sensíveis, ainda que a orientação dos últimos discos não tenha sido completamente negada. De todo modo, este último LP, lançado pela banda no final da década passada, é o melhor que fizeram no século 21. E pelo menos uma música, "Time Files", com seus 11 minutos, rivaliza com as suites dos anos 90.

Nada tão desafiador, contudo, quanto o que eles produziram de On the Sunday of Life, o primeiro LP, quando Porcupine Tree era praticamente uma banda de apoio para as ideias visionárias de Steven Wilson, até Signify, o quarto LP que, reouvido agora, soa muito mais forte do que quando o conheci. Curiosamente, a melhor faixa de toda a carreira da banda talvez seja justamente uma dessas guinadas para um som mais palatável. Trata-se de "Stars Die", lançada como single na Inglaterra e presente em LP apenas na versão americana de The Sky Moves Sideways, o ótimo terceiro disco da banda. Wilson, ao menos no Porcupine Tree (sua carreira solo ainda precisa ser ouvida), parece melhor quando se abre esporadicamente ao pop do que quando o abraça mais plenamente.

On the Sunday of Life (1992) * * * *
Up the Downstair (1993) * * * *
The Sky Moves Sideways (1995) * * * *
Signify (1996) * * * *
Stupid Dream (1999) * * * 1/2
Lightbulb Sun (2000) * * *
In Absentia (2002) * * *
Deadwing (2005) * * *
Fear of a Blank Planet (2007) * * *
The Incident (2009) * * * 1/2

2 comentários:

Unknown disse...

Fala Sérgio!

Descobri o Steven Wilson recentemente. Confesso que tinha algumas ressalvas e fui adiando a audição. Mas resolvi dar uma conferida nas últimas semanas.

Comecei pelos mais recentes do Porcupine Tree e não fez muito minha cabeça. Porém na discografia solo dele foi outra história. Estou entregue, ouvindo muito e achando muito boa. Principalmente os discos "Grace for drowning", "The raven that refuse to sing" e "Hand Cannot erase". Esses discos precisam ser ouvidos. Arrisco dizer que é uma das melhores coisas produzidas no cenário musical dos últimos anos.

Lendo sua postagem aqui percebi que errei ao começar pelos mais recentes do Porcupine Tree. Vou dar outra chance, aos primeiros álbuns principalmente.

Abraço!

Rafael Dornellas

Sérgio Alpendre disse...

Boa, Rafael. Adorei o último do Steven Wilson, To the Bone. Esses que vc citou ainda não ouvi, mas ouvirei em breve. abraço