quinta-feira, janeiro 11, 2018

Patto



Com quatro discos lançados, a banda inglesa Patto, um dos patrimônios do selo Vertigo em sua fase mais prestigiada, a da espiral, moveu-se de um jazz-rock movido ao básico voz-baixo-guitarra-bateria, com eventuais incursões pelo vibraphone, visto no primeiro LP Patto (1970) para um rock suingado e funkeado que atinge sua formatação decisiva no terceiro disco, Roll'em, Smoke'em, Put Another Line Out (1972). São dois discos essenciais para quem gosta de rock com pitadas generosas de jazz, soul e blues.

Como sou fascinado por discos de transições, não tenho como considerar o segundo deles, Hold Your Fire (1971), outra coisa que não a obra-prima do grupo. Pensando bem, é fácil chegar a essa conclusão, visto que os outros discos têm uma irregularidade, pontas soltas e momentos desnecessários ou mesmo mais fracos, que Hold Your Fire não tem. Ouvindo esse disco comigo, nos anos 90, quando conhecemos a banda, meu irmão observou que Ollie Halsall toca guitarra como se fosse um saxofone, e é verdade. É em Hold Your Fire, mais ainda que no incrivelmente jazzístico primeiro disco, que a influência de Hot Rats (o LP do Zappa tido como inaugural do jazz rock junto com In a Silent Way, de Miles Davis e alguns outros discos menos famosos) parece mais evidente. Halsall deixa sua guitarra percorrer caminhos sinuosos com rapidez, puxando o restante da banda e mostrando um incrivel entrosamento entre ele e o vocalista Mike Patto. É desse disco a minha preferida da banda, e uma espécie de portfolio do que pode Halsall quando inspirado: "Give it All Away".

Em Roll'em, já pela gravadora Island, Halsall às vezes parece mais interessado no piano do que na guitarra, como podemos ver já na excelente faixa de abertura "Flat Footed Woman" ou na igualmente excelente "Turn Turtle", duas das melhores faixas do disco. "Loud Green Song", por sua vez, é um rockão sujo, com baixo jazzístico e guitarra aceleradíssima, como a de um Alvin Lee. É um disco bem solto, como o primeiro, ainda que isso provoque bobagens como 'Mummy" e "Cap'n P' and the Attos". É também mais sujo e mais para o blues e o soul do que para o jazz, se é que dá para separar assim facilmente as influências ouvidas. A melhor do disco é "Singing the Blues on Reds", que de certo modo explica melhor o que tentei dizer acima, ao mesmo tempo em que mostra que a banda estava indo por outros caminhos.

O que era para ser o quarto disco, Monkey's Bum, gravado em 1973, foi engavetado e só veio à luz em 2002 por cortesia da gravadora Akarma, com produção mais tosca que o usual porque a banda havia se desmanchado, deixando a Island com liberdade para então cancelar o lançamento. Não é um mau disco, mas carece mesmo de acabamento. Até para os padrões sujos do terceiro disco. Dá para ouvir a guitarra de Halsall a mil, como sempre, alguns instrumentos de sopro que ficaram sem crédito provavlemente por falta de pesquisa por parte da Akarma, e é possível perceber que a banda tentava voltar ao nível de excelência de Hold Your Fire. Pena que ficaram no meio do caminho.
Patto foi para o Spooky Tooth, banda que sempre considerei superestimada dentro desse contexto de rock obscuro setentista, e depois formou o Boxer, com um bom primeiro disco e outros dois discos mais modestos. Halsall tocou em alguns discos do genial Kevin Ayers, e pode ser visto num dueto sensacional com Andy Summers em um show do Kevin Ayers de 1983 (Halsall com um roupão rosa).

Patto (1970) * * * *
Hold Your Fire (1971) * * * * *
Roll'em, Smoke'em, Put Another Line Out (1972) * * * 1/2
Monkey's Bum (1973 – 2002) * * *

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