quinta-feira, janeiro 16, 2025

20 discos de 1975 que adoro

 


Um amigo sempre me falou: a graça das listas é a pequena quantidade de obras dentro delas, que faz com que valorizemos as que entraram e lamentemos as ausentes. Outro amigo prefere as listas amplas, como as de 100 discos de 1977 ou de 1983 que fiz no melomania anos atrás. Bom, uma lista ampla de discos antigos requer muito mais trabalho, e mesmo uma de 100 daria espaço para uma série de injustiças. Desse modo, opto por uma lista menor, sabendo que as injustiças serão grandes, mas os presentes estarão bem salientados.

Lista é gosto pessoal, pura e simplesmente. Também no gostar ou não delas. Quem não gosta de fazer ou ler listas, não precisa entrar para xingar. Basta ignorar este post do melomania e os posts que o divulgarem nas redes sociais. É como fazem as pessoas civilizadas. Quem quiser me mandar sugestões entre as inúmeras obras que deveriam estar presentes, fique bem à vontade. Faz parte do jogo e é divertido que seja assim.

                                            * * * * *

Entendo 1975 como um ano de espera, em que alguns estilos que dominaram a primeira metade da década, como o prog rock e o glam rock, estavam em um impasse. Por outro lado, a disco music já se insinuava enquanto o soul e o funk estavam a milhão. E as fusões de jazz com o rock e com o funk praticamente dominaram toda a música mainstream dos anos 1970, até mesmo no Brasil. Talvez o jazz, em suas ricas matizes, foi para os anos 1970 o que as matizes da música eletrônica foram para os anos 1980. Penso que a lista final reflita exatamente isso.

 

DISCOS

01. Gilberto Gil – Refazenda

Provavelmente o disco mais impressionante lançado no Brasil em todos os tempos, ultrapassando os três ou quatro dos Novos Baianos que mereciam entrar nessa briga. Refazenda tem rock, jazz, xote, "lamento", música para "tocar no rádio" e o que mais quisermos classificar, em algumas das melodias mais belas que Gil criou.

02. Led Zeppelin - Physical Graffitti

The Lamb Lies Down on Broadway (Genesis), Songs in the Key of Life (Stevie Wonder) e You Are What You Is (Zappa) podem conseguir empate, mas nenhum outro álbum duplo supera esta pérola que o Led Zeppelin lançou em 1975, compilando músicas novas que dariam mais de um disco simples com algumas sobras do Led IV e do Houses of the Holy. Magnifico.

03. Frank Zappa and the Mothers of Invention - One Size Fits All

The Mothers era a banda de Zappa antes que a gravadora impusesse o "of invention", com que este discaço de jazz rock e progressivo é creditado. O LP surge logo após a série de álbuns mais radiofônicos (Overnite Sensation, Apostrophe, Roxy & Elsewhere), coroando uma fase extraordinária do músico, a que tem em suas fileiras o mago George Duke (que, por sua vez, lançou dois discos excelentes em 1975).

04. Black Sabbath – Sabotage

Disco que encerra a melhor fase da banda, que começa com Master of Reality para ao todo quatro discos impecáveis de metal pesado em sequência (e ainda lançariam o magnífico e injustiçado Never Say Die), Sabotage é aquele em que encontramos Ozzy no auge, com uma voz que penetra em nossos ouvidos como algum gás contagiante. Todas as faixas aqui se tornaram clássicas, das mais tradicionais às mais malucas. Se Vol.4 é o marco fundamental do stoner rock, este disco é o ápice do rock.

05. Jorge Ben - Solta o Pavão

Não é que 1975 foi um ano sensacional para a música brasileira. É que qualquer ano da década de 1970 foi sensacional para a música brasileira. Solta o Pavão, se não for o melhor disco de Jorge Ben (e isto quer dizer muito), é sem dúvida um dos três melhores. Imagino quantos não cantavam, em uníssono, ao verem Ben se aproximar de alguma roda: "O rei chegou, viva o rei".

06. Parliament - Mothership Connection

Em 1975, o Parliament (mais funk) e o Funkadelic (mais rock) estiveram próximos como nunca antes, ainda que as bandas continuem com suas identidades particulares sob a maestria de George Clinton. Enquanto o Parliament lançava seu melhor disco, Mothership Connection, Funkadelic lançou um disco menor (Let's Take it to the Stage) após a obra-prima Standing on the Verge of Getting it On, de 1974.

07. Queen - A Night at the Opera

Terceiro de uma trinca perfeita da banda, iniciada com Queen II e continuada com Sheer Heart Attack. Talvez esteja aqui a faixa mais impressionante composta por Freddie Mercury: "Death on Two Legs". "'39" é a culminação dos flertes de Brian May com a música americana e "The Prophet's Song" é mais uma obra-prima de sua lavra com o Queen. E quem diz ter enjoado de "Bohemian Rhapsody", sinceramente, nunca gostou de verdade da música (ou "de música"?).

08. Brian Eno - Another Green World

Terceiro disco de Eno, em pé de igualdade com os dois primeiros, já se insinuando nos caminhos que Eno trilhará a seguir, algo entre o rock e a ambient music já bem definida no disco Evening Star, creditado a Eno e Fripp, que seria lançado no fim do mesmo ano.

09. Earth & Fire – To the World of the Future

Num ano cheio de belos discos de progressivo que bateram na trave (certamente numa lista de discos de 1974 e, principalmente, de 1973 ou 1972, teria mais discos de prog), este da banda holandesa é pop demais para agradar os proggers mais radicais (e bobos, eu diria) e progger demais para agradar aos mais poppers. É o mesmo problema enfrentado por outra banda holandesa, o Kayak. Azar de quem tem esses preconceitos, pois são duas grandes bandas.

10. Smokey Robinson – A Quiet Storm

O terceiro disco solo de Smokey é um compilado involuntário de melodias celestiais, ou seja, uma coletânea involuntária com algumas canções do nível das melhores que ele escreveu com sua antiga banda, The Miracles. Baladas soul e músicas de apelo pop com arranjos delicados, sofisticados e muito bem produzidos.

11. Fela Kuti – Excuse-O

O nigeriano Fela Kuti lançava vários álbuns por ano, quase sempre com um grande nível de excelência, sobretudo nos anos 1970. Este disco meio que representa vários outros que o músico gravou no mesmo ano com sua banda Afrika '70 e poderiam estar aqui. Um gênio do chamado afrobeat.

12. Electric Light Orchestra - Face The Music

Eldorado, de 1974, talvez seja o disco em que eles acertam a fórmula pela primeira vez, deixando que as melodias compostas por Jeff Lynne brilhem sem a concorrência de inspirações psicodélicas herdadas do Move e de Roy Wood. Neste quinto LP, eles continuam no mesmo caminho e o aperfeiçoam. Graças a eles, criei um subgênero bem particular, que utilizo de vez em quando: o pop perfeito.

13. Moraes Moreira – Moraes Moreira

Com a saída de Moraes dos Novos Baianos, os admiradores do grupo ganharam duas carreiras maravilhosas, pelo menos nos anos 1970, pois a banda continuou excelente sem Moraes, lançando, já em dezembro de 1974, o magistral Vamos pro Mundo, e Moraes iniciou uma maravilhosa carreira solo com este disco e lançaria outras maravilhas até, pelo menos, 1981.

14. Gentle Giant - Free Hand

Digamos que entre vários discos da lista que incluem inspirações do rock progressivo em algumas faixas, este é o único que pode ser chamado de progressivo sem maior crise. Um discaço cheio de inspirações melódicas e quebradas jazzísticas de uma banda até hoje subestimada.

15. Ohio Players – Honey

Entre 1974 e 1976 esta banda de soul e funk lançou quatro discos essenciais, todos com capas sensuais e hoje censuradas no Rate Your Music. Este Honey, único de 1975 e com o maior sucesso deles, "Love Rollercoaster", talvez seja o ponto culminante.

16. Bee Gees – Main Course

"Nights on Broadway", sozinha, já seria o bastante para colocar este disco em qualquer lista. Mas tem muito mais nesta pérola pop-dançante que abria as portas para a disco music e para o falsete de Barry Gibb brilhar.

17. Alphonse Mouzon – Mind Transplant

Em 1974, Mouzon tocou bateria no explêndido primeiro disco da Eleventh House de Larry Coryell. Em 1975, ele tocou no segundo disco da banda de Coryell, que é ligeiramente inferior (o que significa que ainda é muito bom), mas lançou também este seu terceiro disco solo, um magnífico petardo de quebradeira jazz-rock que ganhou 1 estrela da revista Rolling Stone da época (que às vezes parecia revista de humor). Dois guitarristas sublimes participam do disco: Lee Ritenour e Tommy Bolin. Jazz e rock unidos também nas guitarras do disco.

18. Earth Wind & Fire - That's the Way of the World

O sexto disco desta banda mágica tem "Shining Star" e "Reasons". Precisa mais? Pois tem. E muito mais. Obrigatório, como tudo que a banda fez entre 1971 e 1981.

19. 10cc – The Original Soundtrack

Terceiro e mais famoso disco da excelente banda de art rock inglesa. É deste LP o maior sucesso da banda, "I'm Not in Love". No ano seguinte, ainda lançariam o magistral How Dare You!, último com a formação clássica.

20. Robert Wyatt – Ruth is Stranger Than Richard

Brilhante sequência para o magistral Rock Bottom, este disco tem participação de Brian Eno em algumas faixas, e dois lados diferentes, o lado Ruth e o lado Richard, um mais malucão que o outro, como o próprio título indica.

--------------------------------------------------------------

+ 12 discos, porque sim

Patti Smith – Horses

Primeiro discaço da diva punk.

Invisible – Durazno Sangrando

Sublime prog argentino da família Spinetta.

Harmonium – Si on Avait Besoin d'une Cinquième Saison

Segundo e melhor LP da belíssima banda prog de Quebec.

Bob Dylan – Blood on the Tracks

Este e Desire (de janeiro de 1976) formam uma dupla essencial.

Mahavishnu Orchestra - Visions of the Emerald Beyond

Seleção de músicos do jazz rock e um de seus melhores discos.

Caetano Veloso - Qualquer Coisa

O outro lado é jóia. Este é mais jóia ainda.

Hawkwind – Warrior on the Edge of Time

Último disco da banda com Lemmy Kilmister. Clássico do space rock.

The Pointer Sisters – Steppin'

Rumo a um pop soul tão bom quanto o jazz que faziam anteriormente.

Renaissance - Sheherazade and Other Stories

Só "Ocean Gypsy" já vale o disco. E ainda tem a suíte que o intitula.

Rufus – Rufus featuring Chaka Khan

Funk na cabeça, com a voz maravilhosa de Chaka Khan.

Kayak – Royal Bed Bouncer

Pop demais para os proggers, prog demais para os poppers.

Split Enz – Mental Notes

Proto new wave da Nova Zelândia.


Nenhum comentário: