sábado, junho 19, 2004

Da série "ninguém vai ler, e quem ler vai se perguntar: what the fuck?"

ELO, ou a genialidade de Jeff Lynne - parte 2

Electric Light Orchestra (1971) ****
Uma estréia que agrada aos psicodélicos e aos proggers. A mistura ainda era decidida, muito bem arranjada com suas camadas de tons fortes. "Mr.Radio", "10508 Overture" e "Nellie Takes a Bow" provam que a junção de dois talentos (Roy Wood e Jeff) não iria durar. São músicas que pertencem a mesma concepção, mas apontam para caminhos divergentes.

Electric Light Orchestra 2 (1972) ****1/2
Se não fosse a versão correta, mas desnecessária de "Roll Over Bethoven", este disco seria uma obra-prima. Não por ser o mais progressivo da banda, mas porque Jeff, agora livre para impor sua maneira de conceber canções, resolveu inverter o que se esperava e compôs canções viajantes, como Wood queria, mas construídas com forte apêlo melódico e comercial. Dessa indecisão surgiu um belo disco space prog. Basta ver que o segundo lado tem só duas músicas, as melhores do disco: "Kuyama" e "From the sun to the World".

On the Third Day (1973) ****1/2
Discaço que acentua o lado comercial buscado por Lynne, sem abandonar os devaneios space prog do segundo disco. Apenas eles aparecem mais formatados, em canções mais curtas. Tem uma seqüência de tirar o fôlego, que começa com "Showdown" e termina com "Dreaming of 4000". São quatro faixas geniais que comprovam o talento e o direcionamento buscado por Lynne. Tem "No Not Susan" também, a canção mais John Lennon que já ouvi (bom...até "Can't Get it Out of My Head", do LP Eldorado)

Eldorado (1974) **1/2
Um disco indeciso, meio continuação do anterior sem nada acrescentar. Seria piloto automático, não fosse a incapacidade de Lynne de deixar de se envolver com uma busca pela melodia perfeita (ok, quantas vezes você já viu eu escrever isso?). "Mister Kingdon" e´"Boy Blue" são as melhores.

Face the Music (1975) ***1/2
Mais um disco indeciso, ainda que sensivelmente melhor que Eldorado. Falta coesão, mas as melodias voltaram a ser inspiradas como em On the Third Day. Ouça "Strange Magic" e "One Summer Dream", duas das melhores canções de Lynne. Mas tem também "Evil Woman", que prenuncia a recaída Disco Music do disco seguinte em alto estilo. Infelizmente tem "Fire on High", abertura eruditóide e equivocada, eles fizeram muitas, mas nenhuma incomoda como essa.

A New World Record (1976) *****
Há há...o disco que tem "Livin' Thing", o maior sucesso comercial do grupo. Todo mundo conhece, e quase todo mundo tem vergonha de dizer que gosta. O inegável é que a melodia dessa música gruda como uma geleca assassina, e faz com que você fique prisioneiro do refrão emoldurado pelas cordas agudas. Clássico do pop safado, mas metido a sério, de Lynne. O resto do disco seguraria as cinco estrelas mesmo sem a irmã famosa. Pô..."Above the Clouds" tem os backing vocals mais geniais daqueles tempos, e "Rockaria", o casamento perfeito entre a erudição dos arranjos e a inspiração Buddy Holly com Roy Orbison de Lynne. Fora a citação de Easybeats na genial "Telephone Line", a abertura potente com "Tightrope", a batida bate estaca de "So Fine"...um clássico.

Out of the Blue (1977) *****
Álbum duplo sem um sulco supérfluo sequer. De baladas e batidas 4x4 segue o maravilhoso mundo de Jeff Lynne. A abertura do disco, a direta e dançante "Turn to Stone" dá o tom, alternando com baladas como a tocante "It's Over", a segunda do disco, que tem uma das letras mais lindas sobre desilusão amorosa que já ouvi (sim, porque a conjunção entre o que ele canta e como canta é genial, coisa de arrepiar mesmo), fora a batida de "If I Fell" (dos Beatles). "Mr. Blue Sky" está na trilha da nova peraltice escrita por Charlie Kaufman para o cinema, permeia todo o trailer, talvez seja descoberta como uma das mais geniais peças do revival dos anos 50s pelos anos finais dos 70s. E o rock 'n' roll segue pulsante com "Birminghan Blues". Um dos grandes discos de todos os tempos.

Discovery (1979) ***
Entressafra brava. Depois de Out of the Blue, qualquer disco seria decepcionante, mas Discovery soa como ducha de água fria na primeira audição. Ouvindo com calma, percebe-se que a genialidade de Lynne bate ponto em pelo menos três músicas: "Wishing", com a volta dos backing vocals inspiradíssimos; "Diary of Horace Wimp", pela brilhante combinação de letra e melodia; e a indefectível "Last Train to London", canção que fez bem mais sucesso no Brasil que no resto do mundo, a ponto de ter ficado de fora de várias coletâneas, inclusive de uma dupla, bem abrangente da carreira do grupo.

Xanadu (1980) ***
Tirando o delicioso guilty pleasure que é o lado de Olivia Newton John, o lado do ELO é bem bacana, ainda que nada acrescente ao repertório do grupo. "I'm Alive" é o destaque.

Time (1981) ****1/2
O disco que tem a introdução do robozinho. Como tocava nas rádios brasileiras a brilhante e deliciosamente brega "Twilight" e com o prólogo, limado das rádios no resto do mundo. Brasileiros têm bom ouvido para o pop (isso me lembra que a melhor versão de Skyline Pidgeon, de Elton John, só fez sucesso no Brasil). O disco ainda tem a bela "Ticket to the Moon", uma balada que pode levar às lágrimas, com vocal adocicado na medida. E ainda tem as geniais "Here is the News", "Rain is Falling" e "21st Century Boy".

Secret Messages (1983) ****
Um disco que segue Time em muitos pontos, mas parece apontar para uma estafa criativa. Seus momentos bons, entretanto, são tão bons, que garantem o interesse. Na verdade, quase tudo que entrou no disco é muito bom. É que a intenção era fazer outro álbum duplo, idéia abortada pela gravadora, com Lynne concordando, já que as extra tracks são decepcionantes e bem mais fracas que qualquer coisa que entrou para o disco. Destaques: Secret Messages, Train of Gold, Four Little Diamonds e Danger Ahead.

Balance of Power (1986) *
Um desastre. Só "Getting to the Point" se salva, o que é muito pouco.

Zuma (2000) ****
Creditado como ELO, mas na verdade um disco solo de Jeff Lynne, tão bom quanto o festejado Armchair Theatre (de 1991 ****). Como não tenho o disco em mãos, não lembro quais as melhores, mas deve-se salientar que a mão de Lynne está muito boa.

Esqueçam a segunda incarnação da banda, sem Jeff Lynne, e que fez shows pelo Brasil (com Lynne aparecendo nas fotos promocionais - santa picaretagem).



Um comentário:

Allan disse...

As primeiras 5 músicas do Out of The Blue deveriam ser consideradas clássicos da música mundial, muito bom.